Poeta do testemunho... da problematização da sociedade...e de belíssimos escritos.

Poeta do testemunho... da problematização da sociedade...e de belíssimos escritos.
Jorge de Sena (1919-1978)

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Paraíso Perdido

Estou aqui, escrevendo (ou ao menos tentando) a partir do conto Paraíso perdido, que está num volume chamado Genesis, em que há também o conto Caim.

Acho muito divertido o modo como Sena compôs o quadro, depois de ingerido o fruto proibido: "uma bacanal fantástica".

Não, meninos e meninas, não é um conto de humor; é uma puta reflexão sobre o sentido de ser humano, gozar de livre-arbítrio plenamente e a sério.

sábado, 12 de novembro de 2011

Luis Maffei e Alex Castro na EdUFF em 17.11.11


Pulsatilla - Luis Maffei. Onde perdemos tudo - Alex Castro. Um evento para sensibilidades e inteligências. Venham todos!!!

sábado, 5 de novembro de 2011

Jorge de Sena e o dia de finados.

No último dia 2 Jorge de Sena teria feito 92 anos. Eu me lembrei da data, mas nesta última quarta, logo pela manhã, o pai de uma vizinha minha faleceu - enfartou na casa dela. Para quem me conhece, pode parecer estranho eu dedicar atenção a este tipo de coisa, mas passei o dia dando-lhe assistência, notadamente cuidando do seu menino mais velho, que tem 32 anos mas é um menino de 10.

Ela tinha muito amor pelo pai, e foi essa a dor que me doeu - sua perda, não a morte em si.

Nessas horas, duas coisas se destacam: as futilidades e falta de discernimento das pessoas tolas e a boa criação que damos aos nossos filhos (quando cumprimos bem o nosso papel de mãe). O filho mais novo de Norma, de uns 30 anos, veio de casa logo cedo socorrer o avô, que morreu em seus braços, e passou o dia todo cuidando do que devia ser feito, até o fim do enterro.

A morte é inevitável, mas os bons filhos que Deus deu a todo mundo, nem todos souberam preservar. Ela soube. Isso é um grande conforto.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Sentimentos

Eu tive um namorado, a certa altura da minha vida, ambos éramos comunistas, que dizia que um comunista é alguém movido por grandes sentimentos de amor: pela humanidade, pelos camaradas.
Tenho pensado nisso sempre e mais, pois me parece que justamente os sentimentos de amor, todos os que seriam passíveis de sentirmos, estão sendo minados pela propaganda do sistema, que disfarça a necessidade que temos de trabalhar exaustivamente para ganhar a vida em "sonho" de "chegar lá". Assim, até os mais bem intencionados entram nessa lógica de disputa de espaço permanentemente, até se perderem nisso.

2012 será um ano de eleição, não somente porque haverá eleições municipais, mas porque, na "sociedade civil organizada" será somente este o objetivo: eleger ou apoiar alguém que vá se eleger. Estar neste filão...

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Steve Jobs morreu ontem.

Assim como centenas de anônimos pelo mundo afora. No entanto, ele era Steve Jobs, era alguém famoso por ter criado e revolucionado em suas criações. Movida pela notícia do seu falecimento, fui ler o discurso que ele proferiu em 2005, numa formatura. É, realmente, um belo texto, tanto pelo modo como foi escrito, quanto pela experiência que lhe dava respaldo.

Há outros discursos que fiz questão de ler. Por exemplo, o do José Saramago, por ocasião da premiação com o Nobel de Literatura, e o de posse do Obama.

Em nenhum deses casos, em que pese o fato de serem figuras públicas, não penso que sejam palavras vazias, em discursos construidos por profissionais. Não é que me importe se foram escritos somente por estas pessoas, mas são palavras inspiradoras. Afinal, nenhum legado é mais importante do que aquilo que podemos ensinar com o nosso exemplo. Isso não é só algo que dizemos para nós mesmos quando sabemos que não iremos deixar fortunas, em termos financeiros, para os nossos filhos. É a mais pura verdade.

Eu sei que incluí o Obama nesta lista. Acontece que a dimensão que ele tem pra mim é a de um homem que teve a oportunidade de ser instruído desde cedo, e tornou-se presidente dos Estados Unidos. Não é Jesus renascido.

sábado, 24 de setembro de 2011

Há coisas que nem comentarei.

Como, por exemplo, o "Rock" in Rio..., bem como as notícias de problemas na infraestrutura (que deveria ter sido)providenciada em torno do evento, como transportes e segurança; ou a entrada de um Pastor, o Waguinho, para ser candidato à prefeitura de Nova Iguaçu pelo PC do B...

Sendo eu uma aluna de Camões e Jorge de Sena nas aulas de Luis Maffei, neste ano do Senhor de 2011, não posso deixar de olhar em volta e o que vejo me preocupa sobremaneira. Se estou na rua, vejo sujeira, mendigos falsos e verdadeiros (e, com sinceridade, não sei o que me apavora mais); por outro lado vejo mulheres disputando espaço com as profissionais do sexo, em termo de indumentária somente, porque as putas se dão muito mais valor.

Essa semana, no entanto, dois ataques a professoras - o que pode ser muito corriqueiro para alguns - é algo que me incomoda por vários ângulos, sempre a começar pela educação que essas crianças parecem estar recebendo em casa. Não, não está escrito errado: eu não quiz dizer "a educação que as crianças não estão recebendo", mas a que elas recebem. Uma coisa é ninguém dizer que se deve comportar bem na escola, respeitar o espaço e professores, colegas, humanos irmãos, enfim. Outra, bem diferente, é desqualificar o outro que será encontrado na escola, bem como à própria instituição.

Um dos casos é o de uma professora em Mogi-SP, que foi agredida por não permitir o uso de celular em aula, o outro é o do menino de 10 anos que atirou na professora e depois em si mesmo, tendo morrido por isso, acrescentando-se o fato de que não se saiba a motivação.

Embora eu creia que criei e crio bem os meus filhos, o que é o mínimo da minha obrigação, não me sinto em nada tranquila. Insisto que é preciso darmos formação aos nossos filhos. De que adianta liberdade política, democracia, instrumentos tecnológicos, diversidade, se não utilizamos nada disso para exercer o potencial com o qual nascermos de sermos humanos?

domingo, 18 de setembro de 2011

Tudo já virou mercadoria. E agora?


Um dia desses fiz uma postagem intitulada E SE TUDO VIRAR MERCADORIA? No entanto, percebo que já estou defasada, visto que tudo parece cambiável neste momento em que estamos compartilhando os mesmos oxigênio e impurezas. Nada escapa, sobretudo as relações humanas, pois estão em grande medida motivadas ou orientadas por interesses materiais.

Isso me coloca numa posição de grande isolamento no mundo, por falta de pares. É peciso estar na moda, comportar-se dentro do padrão, ou sair do padrão de forma aceitável, ou seja, filiando-se a "minorias exóticas", também da moda, ou ser politicamente correta, ou ainda querer chegar lá, do ponto de vista do mercado de trabalho e demais realizações financeiras.

É limitado demais esse mundo nosso.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Civilização



Estava, ontem à noite, num coletivo e, como era uma reles passageira, não estava dirigindo, de tal modo que podia dar-me ao luxo de observar a violência do comportamento dos seres humanos que dirigem ônibus contra os que dirigem carros e vice-versa. Um verdadeiro campo de batalha. Me lembrei daquelas partidas de futebol americano, onde se jogam uns nos outros se atacando.

E, pensando em violências, mas olhando em outra direção, lembrei-me de que o papa usa um anel, chamado de "anel do pescador" - o que me parece que seja uma referência ao primeiro papa, Pedro - que é, no entanto e contraditoriamente, de ouro maciço. Cada papa tem o seu, ou seja, quando o cara morre, destrói-se o dito anel e produz-se outro para o novo pontífice. Ora, é uma igreja que se diz dos pobres e representante de Deus na terra, mas cujos líderes esbanjam - literalmente - ouro, enquanto milhares morrem de fome mundo afora.

Esse torto percurso de reflexão me levou, por fim, a pensar nas torturas cotidianas e particulares a que nos submtemos, às vezes, por pura vaidade: tênis no verão de um país tropical e saltos altos e finos em ruas de paralelepípedo, só para escrever pouco.

Porque, afinal, nos consideramos civilizados mesmo?

domingo, 11 de setembro de 2011

11 de setembro, 6 e 8 de agosto, 3 de maio. Datas


Hoje completam-se, daqui a 15 minutos, os 10 anos do atentado terrorista que atingiu o World Trade Center e feriu para sempre o sossego que, não sei porque, pensavasse que havia no mundo. Na verdade, era o sossego de achar que o mundo tinha um dono só: os EUA, que interferia à vontade - mas por baixo do pano, no andamento dos governos mundo afora. Não, eu não acho que os atentados foram uma justa resposta, pois o que se atinge com o terrorismo extrapola qualquer território, nacionalidade ou tempo. E o inimigo dos povos é o Capitalismo.

Será sempre um dia para se lamentar, assim como o são 6 e 8 de agosto. Lamentar as mortes decorrentes da estupidez humana, que leva a todo o tipo de conflito armado.

Jorge de Sena escreveu, certa vez, o seguinte verso: "Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso." Está num poema, Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya, que nasce a partir de uma pintura de Goya - os três de Mayo, e da sensibilidade de um homem, com profissão, esposa e filhos e conhecimento acerca da trajetória, nada pacífica, da humanidade ao longo da história.

Me lembro que, assim que entendi que o World Trade Center estava sendo atacado - eu estava perto dos meus filhos, então com 8 e 5 anos, e o meu menino me dizia "mãe, o avião foi direto para aquele prédio", pensei que dali se desencadearia a terceira guerra mundial, e fiquei desesperada, achando que não haveria mundo para eles, nem futuro. Não conhecia, à época, os versos de Sena.

Hoje esse mesmo menino meu está prestando vestibular. Antes de sentar-me aqui, para escrever, fui levá-lo ao ponto do ônibus e desejar sorte, mesmo ele sendo quem é, ou seja, ter estudado muito e pertencer ao signo de aquário. Mãe é mãe, né? Também não sei que mundo será os dos meus filhos, mais sei que é preciso combater o capitalismo de forma organizada.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Idade para entrar no ensino fundamental - 6 anos

O conselho nacional de educação decidiu, ontem, fixar os 6 anos como idade mínima para as crianças no Brasil serem matriculadas no ensino fundamental - 1º ano, antiga classe de alfabetização. O argumento é baseado na cognição e maturidade das crianças.
Na Globo, que foi onde ouvi a notícia, o Alexandre Garcia chamava a atenção para o fato de que a América Latina tem 15 prêmios Nobel, sendo metade só na Argentina, mas nenhum no Brasil, e que essa decisão é um incentivo à mediocridade. Concordo grandemente com isso.

Eu aprendi a ler em casa, aos 5 anos - e não se deve esquecer que a minha mãe é analfabeta. Meus dois primeiros filhos foram para a escola - particular - cedo e aprenderam a ler, respectivamente, aos 6 e aos 5 anos. Meu pequeno não pude por na escola particular, mas o ensinamos a ler em casa, dentro dos seis anos, porque a escola pública não começa a alfabetizar no 1º ano. Como eles tem até o final do ciclo para alfabetizar, 3 anos, começam a ensinar em agosto do 3º ano.

Assim como o jornalista, fico me perguntando o que pretende o governo com isso. As crianças estão sendo expostas cada vez mais cedo a uma série de conteúdos, hábitos, programas, enfim... inadequadas à sua idade, e o que se busca limitar é o aprendizado escolar?

Ontem mesmo eu estava lendo um artigo do Alilderson (de Jesus, revista ABRIL/UFF 2010), em que ele escreveu: "Uma civilização barulhenta que silencia apenas para não se manifestar sobre as atrocidades que promove." Seu artigo era a partir de O Grito - de Luis Miguel Nava. Sua afirmação, com a qual concordo também grandemente, me lembra aquela história da carroça que, quanto mais vazia mais barulhenta.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Trabalho, eu, o Sena e o amor.

Trabalhar no capitalismo é uma tarefa ingrata, diversamente ingrata. Fico sempre pensando como um homem como o Jorge de Sena, que via tudo e a nada se furtava, "tudo que é humano me interessa" escreveu ele, deve ter sofrido ao longo de sua vida. Os dias em que eu mais penso nisso são quando os meus sofrimentos são maiores do que o habitual.

Nesses dias, é como se eu perdesse parte da minha humanidade, porque parece-me que tudo irá perecer, que não haverá bom caminho, que estou descendo os circulos infernais de Dante, como se eu fosse a personagem de O PROCESSO - de Kafka, que foi preso e nunca descobriu sequer a acusação. Angústia.

Então, como no poema de Drummond, a aurora vem surgindo após longa noite, anunciando o sol que nascerá, iluminando o céu do novo mundo que é o novo dia para a vida ser renovada. A aurora começou, para mim, ontem, na aula do Maffei, e o sol ficou a pino hoje, porque você, meu amor, ligou.
Que venha o barqueiro!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Robocop - lições para uma cidade

Em 1987 estreou um filme, um tanto quanto tosco - devo reconhecer, mesmo para os padrões da época: ROBOCOP, O POLICIAL DO FUTURO. Numa Detroit em plena decadência, é preciso varrer o crime rapidamente para construir a cidade do futuro. Uma empresa de segurança é a responsável pela segurança pública, com um protótipo de policial robo. Na verdade, o vice presidente da companhia OCP é o sócio do chefe do crime local e estão adaptando seus "negócios" a esse momento reforma.

Qualquer semelhança é mera coincidência.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Começa o segundo semestre - CAMÕES

Hoje, 10.08.11, começa o segundo semestre d Mestrado: Camões estará em pauta, revisitado.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

E se tudo virar mercadoria?

E se tudo for resumido à condição de produto para comercializar? Parece-me que, cada vez mais, estamos, cada um de nós, uns mais e uns menos, uns por ação, muitos por omissão, destruindo tudo o que há de humano em nossas vidas, ou, pensando em cultura - porque acabei de ler o blog do ALIUDERSON DE JESUS -deixando de cultivar as boas coisas da existência, principalmente o convívio com o "nosso próximo", seja ele quem for e a esteja a que distância estiver.

Mas hoje, parece-me, o que importa é saber o futuro do dollar americano e sua economia...isso me lembra uma outra época, aproximadamente cem anos atrás, em que disputas econômicas levaram o mundo às duas Grandes Guerras, ou àquela Guerra de 31 anos - de 1914 a 1945...má lembrança, eu sei, mas a memória é algo importante de se cultivar.

Hoje completam-se 66 anos do lançamnto da bomba em Nagasaky, embora ache que não tenha escrito direito o nome da cidade.

sábado, 6 de agosto de 2011

66 anos do lançamento da bomba em HIROSHIMA

Para mim, que só fui aparecer neste mundo vinte e oito anos após o fim da segunda guerra, já é sofrível imaginar o que foi aquele período em que se instaurou a real possibilidade de alguns seres humanos exterminarem a vida no planeta. Jorge de Sena compôs CARTA AOS MEUS FILHOS SOBRE OS FUZILAMENTOS DE GOYA antes de se exilar aqui no Brasil, devido à ditadura de Salazar em seu país. Um outro artista pintou sobre os fuzilamentos, Sena escreveu.

Arte não têm função, eu sei, mas somente ela em certos momentos garante a permanência do mais humano em nós: a incapacidade de ignorar a barbárie. Que seja sempre assim, ou, ao menos, enquanto houver entre nós tamanhas desumanidades. Que nunca percamos a capacidade de nos surpreender e que utilizemos mais a capacidade de combater o injusto, mesmo que seja a manutenção de um sistema de coisas em que "é preciso condenar milhares à mimiséria para produzir um único rico."

sexta-feira, 22 de julho de 2011

FILMES PORNOGRÁFICOS

"Estes que não actores se alugam para filmes/ da mais brutal pornografia crua/ em que não representam mas só fazem/ tudo o que possa imaginar-se e a sério/ com a máquina espreitando bem de perto..."
Assim começa o poema FILMES PORNOGRÁFICOS, de Jorge de Sena. Mas, por curioso que pareça, lembrei-me destes versos hoje devido às chamadas com fotos de mulheres seminuas do "programa de televisão" A FAZENDA 4, da universal Rede Record.

"Gosto de sexo", "Soda tá liberada na fazenda 4", são exemplos dos, digamos, apelativos argumentos do referido "programa". (não posso deixar de pensar no sentido sexo-profissional da palavra programa...)

Pergunto-me como as pessoas frequentadoras da Igreja dona da concessão de tal emissora estão se sentindo com uma grade de programação onde o apelo sexual, os corpos exibidos, são o grande destaque. Eu tenho claro que não há influência divina nesses canalhas, mas há pessoas seriamente buscando Deus nesta "instituição".

No poema que inicia esta comunicação, vejo um homem testemunhando o surgimento de um nicho de mercado - a indústria do cinema pornô, nos anos de 1970, não discutindo ou admirando pornografia. Ou seja, é alguém atento à comercialização de um novo produto, o ser humano rebaixado à condição de produto, como qualquer objeto saído de uma linha de produção.
Qualquer semelhança com o referido programa não é mera coincidência.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

E EU, QUE DIFERENÇA FAÇO? PRA QUEM?

Considerando que eu estudo JORGE DE SENA e, frequentemente, me lembro porque leio, e leio sempre, SARAMAGO, esses dois grandes portugueses que pensaram o nosso mundo, o que estou fazendo do que seria a minha parte fazer?
Começo a pensar que será cada vez mais difícil se construir uma sociedade socialista, na medida em que as pessoas são cada vez mais individualistas e egoístas, cada vez mais os pobres e despossuídos não almejam o fim da pobreza ou da desigualdade, somente a elevação da sua condição financeira.

Mas, e o que eu estou fazendo aqui?

sábado, 18 de junho de 2011

1 ano de falecimento de José Saramago.


O título não é criativo propositadamente por que não é exatamente uma comemoração, mas uma lembrança. Numa sexta, uma ano atrás, ele deixava esta vida em que já estava há quase 90 anos. Eu ainda acho que, para alguém como ele, foi pouco tempo, mas o tempo é pouco pra todos nós e ele não gostaria de ter privilégios, certamente que não.

Amo o que ele escreveu, não poque seja divertido ou me distraia, mas pelo que diz quando me leva a pensar depois de lê-lo. De certo modo, é por isso também que amo o Jorge de Sena. Acabo de perceber uma semelhança (besta, eu admito) entre os dois, além do fato de já terem partido e serem escritores: JOSE/JORGE SARAMAGO/SENA. J. S.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

??Para onde este mundo caminha???

Me pergunto, cada vez mais, em que medida estamos caminhando em direção a uma nova Guerra Mundial, considerando que os interesses mercantis e capitalistas não comportam paz ou solução pacífica de divergências, até porque guerra é também um tipo de negócio, um nicho de mercado com produtos e sub-produtos a serem explorados sem fronteiras.

O mundo, ou e principalmente seus habitantes, ainda sofre com mazelas para as quais o desenvolvimento científico e tecnológico já permitem solução. No entanto, soluções não geram produto a ser vendido, problemas sim.

Adoraria poder acreditar que tenho direitos e escolhas, mas já saí da caverna faz um certo tempo, o que não lamento, só constato que conhecer dói e pesa.

Talvez, mais do que nunca, haja necessidade de pararmos - o que significa alguma retirada da cena da vida cotidiana - para olhar detidamente nossa história, confrontando autores e posições, e não vivermos ao sabor das correntes do consumo de tudo o que o sistema deseja e necessita que consumamos: produtos, serviços e sonhos fabricados, já que sonhos não são e não podem ser comerciáveis, nem tornados objetos passíveis de serem vendidos nem comprados.

Lembro-me de um filme que ilustra isso o que digo: EQUILIBRIUM, de 2002. A humanidade vive sob controle principalmente através do consumo diário de uma substância que tolhe a capacidade de sentir. No momento em que se deixa de tomar uma das doses diárias, um simples nascer do sol é suficiente para despertar novamente a humanidade no homem.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

4 de junho de 1978.

Esta foi a data em que encerrou-se esta encarnação de JORGE DE SENA, 33 anos atrás, portanto. Sua obra está, me parece, cada vez mais sendo lida e estudada.
Não posso deixar de comentar esse hábito que as pessoas tem de esperar que se morra para dar valor à existência de alguém.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Um novo mês começando.

PAGU


Contas para pagar. A primeira lembrança que o mês me traz são as contas que devo pagar: luz, gás, mercado, livros (os desse mês foram PARQUE INDUSTRIAL/PAGU; EROS E CIVILIZAÇÃO/ Marcuse e NOVAS ANDANÇAS DO DEMÔNIO/Sena), algumas demandas das crianças (90% delas envolvendo necessidades escolares). Acabou-se o dinheiro.

Não, não é um muro das lamentações virtual. É que quando não se pagam as contas, fica inviabilizado o sossego, e é muito difícil se viver sem sossego. Não se pode pensar em paz com cobranças materiais tão básicas. Pensar requer informações, vocabulário, muita vontade e algum espaço mental.

Felizmente mesmo a opressão não nos tolhe a elaboração, se fosse esse o caso eu não poderia ter passado do ginásio. O bom desses meus infortúnios passados é que procuro garantir o máximo de sossego familiar para os meus pequenos. Meus vizinhos que o digam, volta e meia ouvindo suas risadinhas fora dos horários de aula.

Um novo mês começando, tudo novamente. Bom.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Começaram hoje as inscrições para o ENEM 2011

Isso me lembra a importância e a dificldade de colocarmos nossos filhos na Universidade, o que me lembra imediatamente dois escritores: J. R. R. Tolkien - pai de 4 filhos; e Jorge de Sena - pai de 9 filhos.

Mesmo entendendo que nem todas as pessoas enquadram-se no perfil "acadêmico", o que pra mim são essas pessoas que gostam e acham importante e dedicam-se aos estudos nesse nível universitário, sendo mãe de 3 filhos e olhando para o nosso (louco e temperamentel) mercado de trabalho, penso em que todos eles singrem esse mar de lágrimas, digo, lindo caminho.

domingo, 22 de maio de 2011

CHOVENDO NO MOLHADO - a educação afastada do alcance dos pobres.

Estou lendo, entre outras coisas, A ERA DAS REVOLUÇÕES - 1789-1848, de eric J. Hobsbawm, e na página 62 ele diz: "Temores sociais desencorajavam a educação dos pobres", referindo-se à situação da educação na Grã-Bretanha, no século XIX.

No primeiro momento da instalação do trabalho nas indústrias, ou do modo de procução capitalista, é plausível e coerente supor-se que alguém que passava ao menos 14 horas do seu dia numa fábrica, certamente não teria condições (nem físicas, nem materiais, visto que somente alguém não detentor de meios de procução, portante necessitado de vender sua força de trabalho, ou seja, um pobre, se subtia a isso) de cuidar da formação intelectual, nem de adquirir cultura geral ou básica. Simplificando, também a educação estava já fora do seu alcance.

Seguindo esta linha de raciocínio, é coerente pensar que, em algum momento, tornou-se uma necessidade estratégica para o capitalismo manter os pobres, permanentemente, ignorantes das informações que poderiam levá-los a lutar para mudar de posição na vida e, portanto, no sistema.

Podemos ver, com o passar do tempo, diversas visões acerca da educação, e é claro que não pretendo comentar, nem sequer mencionar, todas. Passarei apenas por algumas, com as quais às vezes eu "dou de cara" por algum motivo.

No filme Orgulho e Preconceito, de 1995, que é baseado no romance homônimo da Jane Austen do início do século XIX, há duas conversas diferentes acerca da educação das mulheres, onde lista-se o universo de conhecimentos básicos necessários para sua formação, objetivando-se - é claro - que façam bons casamentos: desenho, música, conhecimento dos idiomas modernos e muita leitura.

Hoje em dia, num momento em que a produção está muito ligada a novas e complexas tecnologias, e em que vivemos certa crise de mão de obra, devido à má formação de ampla parcela da população, postula-se a solução para estas necessidades de capacitação recentes, mas mantém-se essa prática de afastar os que não compõem a elite dirigente de uma formação humanista adequada. E é para que não sejam capazes de sair da "caverna" que isso é intencionalmente perpetuado.

Quando chove demais num mesmo lugar, há transbordamento, enchente. Enchentes não podem ser ignoradas.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

PAUL CELAN


Paul Celan (Cernăuţi, 23 de novembro de 1920 — Paris, 20 de abril de 1970) foi um poeta romeno radicado na França.

Seu verdadeiro apelido de família era Antschel (ortografia alemã) ou Ancel (ortografia romena). Celan é um anagrama da ortografia romena.

Sobrevivente do Holocausto, Celan é considerado um dos mais importantes poetas modernos da língua alemã. (wukipedia)

Paul Celan, filho de judeus de língua alemã, enaltecido como um dos maiores poetas do pós guerra, carregou e registrou em sua obra a marca do terror nazista. A desolação pela perda dos pais, mortos em um campo de extermínio do qual fugiria, trouxe até nós um texto denso, vigoroso e envolto em silêncio e dôr.

CANÇÃO DE UMA DAMA NA SOMBRA


Quando vem a taciturna e poda as tulipas:
Quem sai ganhando?
Quem perde?
Quem aparece na janela?
Quem diz primeiro o nome dela?

É alguém que carrega meus cabelos.
Carrega-os como quem carrega mortos nos braços.
Carrega-os como o céu carregou meus cabelos no ano em
[que amei.
Carrega-os assim por vaidade.

E ganha.
E não perde.
E não aparece na janela.
E não diz o nome dela.
É alguém que tem meus olhos.
Tem-nos desde quando portas se fecham.
Carrega-os no dedo, como anéis.
Carrega-os como cacos de desejo e safira:
era já meu irmão no outono;
conta já os dias e noites.

E ganha.
E não perde.
E não aparece na janela.

E diz por último o nome dela.
É alguém que tem o que eu disse.
Carrega-o debaixo do braço como um embrulho.
Carrega-o como o relógio a sua pior hora.
Carrega-o de limiar a limiar, não o joga fora.

E não ganha.
E perde.
E aparece na janela.
E diz primeiro o nome dela.

E é podado com as tulipas.
(tradução: Claudia Cavalcanti )



CORONA

Da mão o outono me come sua folha: somos amigos.
Descascamos o tempo das nozes e o ensinamos a andar:
o tempo retorna à casca.

No espelho é domingo,
no sonho se dorme,
a boca não mente.

Meu olho desce ao sexo da amada:
olhamo-nos,
dizemo-nos o obscuro,
amamo-nos como ópio e memória,
dormimos como vinho nas conchas,
como o mar no raio sangrento da lua.

Entrelaçados à janela, olham-nos da rua:
já é tempo de saber!
Tempo da pedra dispor-se a florescer,
de um coração palpitar pelo inquieto,

É tempo do tempo ser.. É tempo.

(tradução: Flávio Klothe)



CRISTAL

Não procura nos meus lábios tua boca,
não diante da porta o forasteiro,
não no olho a lágrima.

Sete noites acima caminha o vermelho ao vermelho,
sete corações abaixo bate a mão à porta,
sete rosas mais tarde rumoreja a fonte.

( tradução: Claudia Cavalcanti )



DO AZUL que ainda busca seu rosto, sou o primeiro a beber.
Vejo e bebo de teu rastro:
Deslizas pelos meus dedos, pérolas, e cresces!
Cresces como todos os esquecidos
Deslizas: o granizo negro da melancolia
Cai num lenço, todo branco pelo aceno de despedida.

( tradução: Claudia Cavalcanti )


DISTÂNCIAS

Olho no olho, no frio,
deixa-nos também começar assim:
juntos
deixa-nos respirar o véu
que nos esconde um do outro,
quando a noite se dispõe a medir
o que ainda falta chegar
de cada forma que ela toma
para cada forma
que ela a nós dois emprestou.

( tradução: Claudia Cavalcanti )



ERRÁTICO

As noites se fixam
sob teu olho. As sílabas re-
colhidas pelos lábios — belo,
silencioso círculo —
ajudam a estrela rastejante
em seu centro. A pedra,
um dia perto da fronte, abre-se aqui:
ante todos os
espalhados
sóis, alma,
estavas, no éter.

( tradução: Claudia Cavalcanti )



QUANDO ME ABANDONEI EM TI,
eras pensamento,

algo
murmura entre nós dois:
do mundo a primeira
das últimas
asas,

em mim cresce
a pele sobre
tempestuosa
boca, tu não chegas até ti.

( tradução: Claudia Cavalcanti )



COMO TE EXTINGUES em mim:

ainda no último
e gasto
nó de ar
estás lá com uma
faísca
de vida.

( tradução: Claudia Cavalcanti )

O VERBETE DO DINHEIRO

http://www.letras.ufrj.br/lerjorgedesena/

VERBETE - JORGE DE SENA E O DINHEIRO - por Beatriz Helena Souza

Considerando que falamos do poeta que se colocou a serviço do testemunho, poderíamos nos perguntar qual o espaço que ocupa, bem como o papel que desempenha, o dinheiro na obra seniana.

Dinheiro é tema que perpassa a obra de Jorge de Sena, evidenciando diversos modos de relações entre as pessoas. Comparece como medida de valor, frequentemente para marcar a desvalorização do ser humano. É o caso, por exemplo, do poema “Rendimento”, datado de 1946 e publicado em Post-scriptum, de 1961, no qual temos demonstrada a necessidade de pedir esmolas por parte de um adulto, que “No regaço, e protegido pelos joelhos agudos,/ tinha um boné no qual/ esmolavam os transeuntes.” (SENA, 1961, p.183). A essa esmola chamarei de dinheiro-humilhação, que aponta para a importância do dinheiro na nossa sociedade. Podemos observar na cena a inscrição de um desconhecido, do qual também se indicia a falta de saúde, fator cuja principal consequência -- tema central no poema -- é o impedimento para o trabalho, o que inviabiliza o atendimento das necessidades básicas para a manutenção da vida em condição minimamente digna.

O fato de se estar empregado, como o taxista de “Lisboa, 1971”, por sua vez, não traz a solução para a questão do sustento, visto que pelo trabalho não se obtém a quantidade de dinheiro suficiente para atingir tal objetivo. Como um bom capitalista, “(...) o patrão conta/ que ele se arranje do a mais com as gorjetas.” (SENA, 1989, p. 173/4) Apropriadamente, este poema aparece num livro intitulado Exorcismos. Aqui temos um dinheiro problemático, visto que, embora de origem lícita, não implica obrigatoriedade por parte do cliente, e torna-se, pois, necessária a denúncia. Considerando o fato de que o poema é localizado num tempo específico, já desde o título demarcado, e posteriormente reforçado por uma cifra específica num verso, constitui um importante testemunho das mazelas do sistema então vigente.

O chamado “vil metal” presta-se, por outro lado, aos seus usos habituais, como a aquisição de objetos e a contratação de serviços. Por exemplo, as noitadas com prostitutas que podemos ler no romance inacabado Sinais de Fogo, assim como, neste mesmo romance, o custeio do deslocamento e dos mantimentos, já que é necessário conseguir dinheiro para financiar a fuga dos dois espanhóis escondidos na casa do tio do protagonista Jorge, por ocasião do início da Guerra Civil Espanhola.

A produção poética de Jorge de Sena abarca um longo período, em que acontecem inúmeras transformações no mundo. Isto nos permite encontrar o dinheiro indiretamente relacionado ao trabalho, mesmo em profissões não convencionais, como os “não actores” que “se alugam para filmes/ da mais brutal pornografia crua”, no poema “Filmes Pornográficos” (SENA, 1989b, p.210) -- testemunho do surgimento da indústria do cinema pornô, a explorar um nicho de mercado. Estes funcionários “(...) só fazem/ tudo o que possa imaginar e a sério/ com a máquina espreitando bem de perto”, e aqui o que causa espanto é a transformação da observação do ato sexual num produto, num bem monetariamente mensurável e, portanto, passível de comércio; sem falar na mais-valia gerada por esta atividade, na qual seres humanos são transformados em espetáculo, não sua atuação. Outros trabalham na filmagem, outros ainda na bilheteria das salas onde o filme deve ser exibido, e o direito de assistir a uma mesma fita será vendido a diversos espectadores, gerando assim lucro, inúmeras vezes.

Convoco para esta questão Bertolt Brecht, quando nos lembra de que vivemos sob certas construções humanas, particularmente modelos econômicos, que não são naturais. O advento do dinheiro, enquanto elemento que permitiu maior mobilidade aos indivíduos, já que não precisavam, por exemplo, de ficar presos à terra para usufruir de suas posses, constitui-se também num fator de transformação profunda nas relações sociais. Voltando a “Filmes Pornográficos” (SENA, 1989b, p.210), temos o surgimento de novas relações profissionais para a obtenção de tão inusitado produto, simplesmente pelo inegável fato de que, no capitalismo, pretende-se que o dinheiro possa comprar tudo. Isto nos remete aos versos finais de “Tudo é tão caro”, pois, de fato, considerando que nem tudo esteja à venda, “nem mesmo com possuir/ eu poderei pagar-te.” (SENA, 1989, p. 69).

Temos, ainda, uma das formas iniciais de dinheiro, no sentido de instrumento de medida social de valor: o sal, de onde surgiu o vocábulo salário, como é de conhecimento geral. Jorge de Sena, em “Conheço o sal”, de 1973, soube expressar a idéia do valor de um relacionamento entre um casal, a marca daquela convivência entre os “amantes enlaçados” (SENA, 1989, p.232) do verso final, definidora do conhecimento de ambos sobre cada um, ao longo de muito tempo. Algo que não tem preço e, por isso mesmo, vale mais ainda.

Num sistema baseado na propriedade privada dos meios de produção e acumulação de bens materiais, no qual autor e obra estão inseridos, o dinheiro opera tal como a chave que abre todas as portas. Sua ausência cumpre, assim, o papel de instalar o espaço da pobreza material ou denunciar a desigualdade social em que se estrutura uma sociedade. Sena o desmascara, no entanto, em “Ode aos livros que não posso comprar”, a partir de uma (não) metáfora, conforme escreve Luis Maffei, “Simples como isso:” e cita os versos iniciais do poema: “Hoje fiz uma lista de livros,/ e não tenho dinheiro para os poder comprar.”, e completa: “uma afirmação que poderia estar fora de um poema. Mas não está.”(MAFFEI, 2009, p. 157). Aqui não se lamenta a impossibilidade da atitude consumista, mas “(...) preciso de comprar alguns livros,/ Uns que ninguém lê, (...)/ Para, quando se me fechar uma porta, abrir um deles”, sinalizando que o caminho para a suplantar a “minha vida difícil” (SENA, 1989, P. 143) extrapola o que o dinheiro possa comprar. Para tal existe a a arte, aquilo que pode haver de mais humano feito por nós.

“Jorge de Sena nunca escreveu nada em que não se escrevesse.” (LOURENÇO,1999, p. 44), escreveu Eduardo Lourenço, e aqui comparece o “Lamento de um pai de família”, cujo início cito: “Como pode um homem carregado de filhos e sem fortuna alguma/ ser poeta ...”. É interessante notar que, embora o vocábulo não apareça em momento algum neste poema, a falta de dinheiro é o que se está lamentando, notadamente pela “(...) miséria que me dão e querem dar a meus filhos,(...)” o que, para além de um possível dado biográfico, compõe um forte testemunho da angústia de viver entre aquela parcela de excluídos do sistema, “o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria (...) à penúria absoluta, para produzir um rico” de que falava Almeida Garrett. (GARRETT, 2008, p. 25).

O capitalismo, como sabemos, não inventou a exploração do homem pelo homem. Sena, leitor de Camões também, o sabia. Além de sua obra poética, Jorge de Sena dedicou-se anos a fio à obra de Camões, revolucionando a leitura do vate quinhentista, sobretudo por demonstrar que “Camões não é o pastelão patriótico-clássico que durante anos tem sido.” (SENA, 1970, p. 11), segundo suas próprias palavras. Sena atribui um novo valor àquele que, em sua obra maior, refletia sobre o significado e consequências do audacioso projeto expansionista e mercantilista, projeto que, assim como no capitalismo, poderia enriquecer muito poucos em detrimento da miséria da maioria.

Assim, chegamos a “Camões dirige-se aos seus contemporâneos”, escrito em 1961, poema no qual o poeta dá voz a um Camões que amaldiçoa, em versos como “Não importa nada: que o castigo/ será terrível.” (SENA, 1978, p. 99), aqueles dos quais não obteve recompensa de espécie alguma em vida, assim como aqueles que virão a roubá-lo. Recompensa e roubo têm relação com dinheiro, pois somente algo de valor pode funcionar como prêmio, bem como ser atrativo para ladrões. Do pouco que sabemos sobre Luis de Camões, é certo que nada lucrou com seus escritos. No conto “Super Flumina Babylonis”, o maior escritor da língua portuguesa é apresentado por sua mãe como o “filho envelhecido e doente” (SENA, 1966, p. 155), e ele a ouve dizer que “isso de poesias nunca dava nada a ninguém” (SENA, 1966, p. 164). Camões está na miséria, com a tença atrasada, e eis aqui novamente a falta de dinheiro marcando o espaço da pobreza.

Jorge de Sena, num de seus famosos prefácios, diz o que considera ser tarefa dos escritores: “num mundo onde as vidas se tornaram tão baratas que podem ser gastas por milhões, aos escritores cumpre resistir.” (SENA, 1988, p. 22). Em sua obra, Sena abordou o dinheiro visando à resistência e à supremacia do humano sobre a “vã cobiça” (Lus, IV, 95, 1), que ainda anda pelo mundo, onde “tudo é tão caro”.




Bibliografia

CAMÕES, Luis de. Os Lusíadas. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora; 1980.

GARRETT, Almeida. Viagens na minha terra. São Paulo: Martin Claret; 2008.

LOURENÇO, Eduardo. Viagem no imaginário crítico de Jorge de Sena in SANTOS, Gilda (org.). Jorge de Sena em rotas entrecruzadas. Lisboa: Edições Cosmos, 1999, p. 43-50.

MAFFEI, Luis. O dinheiro como metáfora ou a (não) metáfora do dinheiro em dois poemas de Jorge de Sena. Gragoatá n.26. Publicação do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal Fluminense – Niterói: EdUFF; 2009, p. 155-170.

SANTOS, Gilda (org.). Jorge de Sena em rotas entrecruzadas. Lisboa: Edições Cosmos, 1999.

SENA, Jorge de. A estrutura de “Os Lusíadas” e outros estudos camonianos e de poesia peninsular do século XVI. Lisboa: Portugália Editora;1970.

_____. 40 anos de servidão. Lisboa: Edições 70, 1989.

_____. Novas andanças do demônio. Lisboa: Editora Círculo de Leitores, 1966.

_____. Poesia I. Lisboa: Livraria Moraes Editora, 1961.

_____. Poesia II. Lisboa: Livraria Moraes Editora, 1978.

_____. Poesia III. Lisboa: Edições 70, 1989.

_____. Sinais de Fogo. Lisboa: Edições 70, 1984.

* Beatriz Helena Souza é mestranda em Literatura Portuguesa na UFF, tendo como tema "A necessidade de ganhar a vida na obra de Jorge de Sena"

domingo, 1 de maio de 2011

1 de Maio - dia internacional do trabalhador.

Hoje é o dia internacional do trabalhador. Pela manhã fui a um ato político. Fui e voltei de ônibus, em que motoristas e cobradores estavam trabalhando, assim como lojistas, padeiros, funcionários de mercados, etc. Boa parte talvez desconheça a importância histórica desta data, bem como ao seu próprio papel na história.

As classes dominantes trabalham para manter os trabalhadores afastados dos dados, da formação acerca de seu próprio passado, enquanto parcela significativa da humanidade, como meio de mantê-los sob dominação e sem resistência.

Mas, como sabemos, o objetivo principal neste sistema é a obtenção de lucros, e isso coloca o bem estar das pessoas sabe lá em que plano! Não há como barrar a resistência dos explorados, mesmo que ela não se dê de forma organizada.

Me lembra Jorge de Sena: "Como pode um homem carregado de filhos e sem fortuna alguma/ ser poeta...". Eu me pergunto sempre como poderemos continuar nessa exploração cada vez maior e mais nefasta, posto que mascarada de tal forma que a maioria ainda não a perceba.

É PRECISO DERRUBAR ESSE SISTEMA. É PRECISO, ENTÃO, CONSTRUIR OS NOVOS HOMEM E MULHER. É PRECISO TRANSFORMAR A SOCIEDADE.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Realizações.

Em que pesem as dificuldades financeiras, assim como os revezes políticos no mundo ao longo de sua vida, Jorge de Sena realizaou-se como estudioso e professor de literatura e, é claro, compondo belamente poemas, romance, novela e ensaios.

Quando podemos viver trabalhando numa atividade que nos realiza, é como se pudéssemos evitar certa perda de tempo, se considerarmos que o tempo em que trabalhamos em boa parte das profissões, produz ou gera mais valia para o patrão, e cansaço para nós. Para quem gosta, como eu e boa parte dos professores que tenho, lecionar é um momento privilegiado de aprendizagem, também porque estudamos para dar aula, não só pelo que recebemos dos alunos.

No entanto, sempre fico admirada da quantidade de escritos de tão grande qualidade que Jorge de Sena nos legou.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Semelhanças


Fico pensando no que pode haver de comun entre mim e o meu autor/objeto de estudo no Mestrado, além - é claro - do fato de termos durante muito tempo, no caso dele toda uma vida, termos de lutar para pagar as contas todo fim de mês.

Sei o que temos de diferente: seis filhos, casamento, gênero, nacionalidade, formação inicial e genialidade.

quarta-feira, 16 de março de 2011

VIVENDO E APRENDENDO




Nunca é tarde para sermos lembrados da efemeridade das coisas, assim como da insustentável leveza do ser que é inerente ao ser humano.

Não, não houve uma grande traição, só algo realmente inesperado para mim por pura falta de atenção. Nada para abater, só mais uma oportunidade de aprender sobre a vida.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Dando murro em ponta de faca.

Machado de Assis era mulato (à exceção da cetidão de óbito, em que foi tornado branco), trabalhou ao longo de toda a vida. O maior escritor do meu País. Camões, coitado, nem se fala...pobre do início ao fim. Pessoa também foi trabalhador.

Meu saudoso Saramago veio de uma aldeia e de escola parou no secundário. Único Nobel da Literatura que é da língua Portuguesa. Jorge de Sena, pai de nove filhos, engenheiro e professor, lutou pra pagar as contas mês após mês. Um mestre.

Lembro-os aqui para meu próprio animamento, já que tenho também filhos e contas para pagar.

terça-feira, 1 de março de 2011

Viver.

Viver é uma palavra bem abrangente, não é mesmo? É estar vivo, inicialmente, mas é, principalmente, gozar, prover, cuidar e encaminhar a própria existência. No capitalismo isso envolve dinheiro, basicamente, no entanto, para ganhá-lo e tornar-nos economicamente viáveis ao pagar aquilo que nós custamos, somos obrigados a dedicar grande parte das horas de nossos dias trabalhando pela sobrevivência.

Na maioria dos casos, não iremos a lugar nenhum - pensando naquele lá onde todo mundo almeja chegar algum dia.

Quando estudo, e desde que voltei aos "bancos escolares", na graduação, em 2006, sinto-me conduzindo minha vida.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

VIVALDI E 14 BIS

Pois é, daqui há uns dias, duas semanas para ser mais exata, estarei completando os 38 aninhos, a dois passos ...dos 40!!!!!! Acho isso muuuuuuito legal, a idade, não a data. Mas acho que parte da minha "crise de década" me levará a rever e, mais precisamente, jogar no lixo todos os "traumas de infância" que sempre embarreraram a minha born date.

É claro que mudanças não caem na nossa vida, refiro-me logicamente às mudanças que nós desejamos implementar em nós mesmos. Principalmente quando se trata de melhorar o trabalho de criação, no caso, eu mesma, há sempre um longo caminho de "Santiago de Compostela" para percorrer. Mas eu sou persistente.

Hoje (sexta), por exemplo, data próxima, dia difícil no trabalho, tinha tudo pra esbagaçar os meus ânimos, mas, que nada! Fiz trocentas piadas cretinas ao longo do dia e, agora, estou me reconciliando com o que de mais elevado a humanidade produziu: música boa. Vivaldi e 14 Bis.

Sobre a CPMI contra o MST

Acabou
1 Comentário
Publicado em 18 de fevereiro de 2011

Do blog da redação da Repórter Brasil

Foi formalmente encerrada a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A instância criada pelos ruralistas para vasculhar as contas do movimento foi coberta com uma pá de cal no último dia 31 de janeiro, sem que o relatório final fosse submetido à votação dos membros da comissão.

Apresentado pelo deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) em 21 de outubro de 2009, o requerimento que criou a CPMI do MST assim definia seus objetivos: “apurar as causas, condições e responsabilidades relacionadas a desvios e irregularidades verificados em convênios e contratos firmados entre a União e organizações ou entidades de reforma e desenvolvimento agrários, investigar o financiamento clandestino, evasão de recursos para invasão de terras, analisar e diagnosticar a estrutura fundiária agrária brasileira e, em especial, a promoção e execução da reforma agrária”.

Ao longo das 13 reuniões oficiais, foram ouvidas dezenas de pessoas – de integrantes de entidades e associações que desenvolvem atividades no meio rural a membros das mais diversas pastas do Executivo federal, passando por especialistas na questão agrária. Além das oitivas, o processo contou ainda com apurações paralelas (por meio de requisições de documentos e informação, por exemplo) que constam do plano de trabalho previamente aprovado pela comissão presidida pelo senador Almeida Lima (PMDB-SE).

Cumprido o previsto, o deputado federal Jilmar Tatto (PT-SP) apresentou o relatório final em julho de 2010, no qual frisava a “inexistência de qualquer irregularidade no fato de as entidades [denunciadas pelos idealizadores da CPMI] manterem relações e atenderem público vinculado a movimentos sociais”. Restava apenas a votação da peça conclusiva na própria comissão. Mas os propositores originais pressionaram com a ameaça de um voto em separado e conseguiram forçar a prorrogação da CPMI por mais seis meses.

Na ocasião, a secretaria nacional do MST divulgou nota em que repudiou a manobra e enquadrou a CPMI como uma tentativa ruralista “para barrar qualquer avanço da reforma agrária, fazer a criminalização dos movimentos sociais, ocupar espaços na mídia e montar um palanque para a campanha eleitoral”. Enquanto isso, o vice-presidente da comissão (Onyx) declarava que, se confirmada a prorrogação dos trabalhos até janeiro de 2011, haveria condições de provar que o governo utilizou dinheiro público para financiar ações do movimento. Um recurso contra o modo como a CPMI ganhou sobrevida foi apresentado pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP), mas a sua colega Kátia Abreu (DEM-TO) tratou de indeferir o pedido na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), já em outubro de 2010.

O prazo da prorrogação chegou ao fim, no final de janeiro, sem que nada mais fosse votado ou discutido. Em tempo: a confirmação do encerramento formal da CPMI do MST surge no bojo do anúncio da decisão unânime da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP), que determinou o trancamento do processo instaurado contra integrantes do MST, acusados da prática de crimes durante a ocupação da Fazenda Santo Henrique/Sucocitrico Cutrale entre agosto e setembro de 2009, mesma época em que foi articulada a ofensiva contra os sem-terra que veio a dar origem à comissão.
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Publicado em em Sem categoria
por reformaagraria2
anteriorQue vergonha, Correio Braziliense!

1 Comentário(s)

Beatriz Helena
#1 18 fevereiro 2011 23:14

Esta é uma notícia que merece destaque, tal qual foi dado quando da formação desta CPMI.

Em que pese alguma possível minha discordância quando às atitudes, ou algumas, do MST, acho fundamental que se garanta o direito de posicionamento e atividade livremente neste país, para grupos ou pessoas. Porque, então, não se pode discutir a discussão das terras do Brasil, sem ser atacado.

Agora é divulgar o resultado, esperado diga-se de passagem.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

O que é trágico?

Tragédia é, segundo o dicionário, acontecimento terrível, funesto, num primeiro significado. É também como se denomina peça teatral extensa, de tom nobre e elevado, cujo fim é triste e é inevitável que seja assim.

Hoje, indo pra praia, vi num jornal uma manchete, anunciando que um MC matou a mulher, cujo início da chamada era TRAGÉDIA NO MUNDO DO FUNK. Ou seja, um homem matou sua companheira, aumentando as estatísticas - já insuportáveis - de violência contra a mulher neste País.

Só que algo me incomoda: no "mundo do funk" mulher é cachorra, leva tapa na cara, é tratada como a coisa mais baixa, desprezível e há um monte de mininas cantando isso. Tragédia, pra mim, é isso. O que vier daí são as consequências, afinal, como dizem uns macumbeiros amigos meus: QUEM SEMEIA VENTO, COLHE TEMPESTADE!

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

27 de janeiro de 1993 e de 2011.

Hoje o meu mais velho completou 18 anos. Há pouco recebi a noticia do nascimento de DIONISO, da Raquel e do Maffei. De fato, um dia especial o de hoje.

O Rafael foi o primeiro sinal de que Deus me queria atuando neste mundo, foi a minha primeira sorte na vida.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Como viabilizar o socialismo?

Como construir e viabilizar a transformação desta sociedade capitalista para a socialista, quero dizer, como transformar a sociedade num organismo em que o cuidado com os seres humanos sejam mais importantes do que obter lucros ou vantagens materiais? Ou seja, como um mundo de pessoas inseridas na propaganda individualista poderão abrir mão do consumismo, por exemplo, para que o conjunto da sociedade cuide melhor de todos as pessoas, mesmo e principalmente daquelas que não puderem pagar por isso?

Estamos num momento em que boa parte dos pobres não almeja o fim da pobreza, a não ser a sua própria; em que não se busca acabar com a corrupção, mas arrumar uma boquinha; da prática do eu primeiro. E não me venham falar da solidariedade em momentos de desastres, pelo amor de Deus! Somos pessoas.

Me preocupa que sociedade as pessoas acham que deva ser a nossa, o que relaciona-se com as práticas de cada um na sociedade. É daí que poderia ou poderá - se vier - vir a mudança. Não falo de querer, falo de trabalhar para construir uma nova sociedade, com novos valores ou novo redimensionamento dos valores, de novas relações interpessoais, enfim.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Metamorfoses - Jorge de Sena



Hoje eu acabei de ler SINAIS DE FOGO, um romance de 519 páginas. Uma obra cheia de reflexões sobre a vida, nos momentos ou situações mais banais inclusive. Como toda boa obra, dotada de valor literário, é daquelas leituras que nos tiram o sossego, em parte por demonstrar a relação que tudo tem com tudo, o quanto nos iludirmos se acreditamos na possibilidade de uma vida autonoma.

Peguei o Poesia II, para ler Metamorfoses. Uma idéia brilhante essa de escrever a partir de obras de arte, sem descrevê-las, mas a situá-las como entes no mundo.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Ulisses - de James Joyce

16 de Junho de 1904. É neste único dia que se passa Ulisses, de Joyce. Comecei a ler, com calma e atenção, entre as minhas leituras da obra de Jorge de Sena, encorajada por ele estar listado para discutirmos no grupo de leitura de Icaraí, ao qual me convidei no início deste ano.

A primeira coisa que as pessoas perguntam, quando eu mostro o livro ou elas o vêem em minhas mãos (pois ele tem 900 páginas aproximadamente) é o que tanto ele escreveu, e aí sugerem:
- "ele acordou. Moveu a perna direita, depois a esquerda, levantou..."

Acho engraçado que não passe pela cabeça delas a curiosidade em saber, mas a vontade de debochar, baseada na certeza de que não poderia um artísta simplesmente estar exercitando o brilhantismo de sua arte. Muitas pessoas ainda acham - realmente - a literatura inútil, no mínimo, para haver tantas com essa mesma reação.

O que eu estou fazendo aqui, neste lugar, neste momento?

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A liberdade.

A liberdade é um dos bens mais preciosos que se pode conquistar. Liberdade é, claro, uma coisa ampla, imaterial mas intrinsecamente ligada ao mundo material. Muitos e muitas deram suas vidas em lutas libertárias, em busca do direito à liberdade para todo o ser humano.

Curiosamente, ontem começou o "BBB 11". Eu não tenho o direito, ou a liberdade, de não tomar conhecimento disso, já que não assistir a esse programa é insuficiente para ignorá-lo - sem falar que é inútil, considerando que todas as bancas expõem vários jornais que estampam esse pessoal "confinado" "na casa".

E não consigo entender como, depois de tão longo caminho percorrido pela humanidade até aqui, uma gama de atividades à disposição (literatura, esportes, praias, yoga, desenho, canto e dança ) tantas pessoas acham interessante um programa onde algumas pessoas "escolhidas aleatoriamente" (e - por mera coincidência - só pessoas com corpos atraentes) ficam encenando esse confinamento e uma "convivência natural", até por que o dito cujo programa tem diretor e roteirista.

Meu único consolo é que eu escolho gastar meu tempo com outras coisas, que o fato de ter alguma liberdade neste econômico e belicista sistema em que estou inserida.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Lendo Sinais de Fogo.

Este é o primeiro romance de Jorge de Sena que leio. A primeira coisa que pude perceber é o quão justo é dizer-se dele que era o poeta do testemunho. E como é envolvente e surpreendente a sua prosa.

Estou rendida.