Poeta do testemunho... da problematização da sociedade...e de belíssimos escritos.

Poeta do testemunho... da problematização da sociedade...e de belíssimos escritos.
Jorge de Sena (1919-1978)

sábado, 25 de dezembro de 2010

O tempo escorre, como areia nas mãos.

Já faz quase um mês que não me confesso, digo, que não escrevo aqui. O resultado definitivo saiu no dia 7/12 e passei. Fui admitida no Mestrado, só não fiz pontos suficientes para solicitar uma bolsa da CAPPES.

Unicamente ter sido admitida é maravilhoso. É mais que o justo resultado por um ano de trabalho árduo, mesmo considerando que essa "ano de trabalho árduo" começou no meio da graduação, quando me resolvi a avançar continuamente nos estudos da literatura. É uma premiação, um presente muito caro.

Tão bom quanto a felicidade de ter passado é o efeito que tal feito tem causado na pessoas com as quais convivo. Muitas disseram que é um resultado esperado, que sabiam que eu ia conseguir; muitas ficam felizes pelo inesperado de alguém como eu, trabalhando o dia inteiro, vivendo só com os meus filhos, tenha tido força de tentar e conseguido, mas é sempre uma comemoração.

Os mais velhos ficam com uma sensação de que, como antigamente, com o trabalho árduo e honesto a gente chega lá, o que num mundo tão afeito às trapaças, pode ser um grande alento. Claro, todos ficam ainda mais felizes pelo exemplo que isso representa para os meus filhos, e muitas usam essa imagem com os próprios filhos.

Vê como a nossa responsabilidade pela felicidade dos outros é grande, né?




Nessa foto, estamos a Queli - que trabalha comigo, um primo do Eduardo e o Eduardo - de azul, e eu. Foi a festa da empresa dia 10. O Eduardo é da área de Direito e ficou muito contente por eu ter passado. Ele também planeja fazer Mestrado em breve.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Passada a entrevista ...

...estou no aguardo da última nota.

Acabo de saber que um amigo perdeu o pai, porque para nós a morte está associada à perda. Particularmente, considero que há vários modos de perda de pessoas, mas não quero falar disso hoje.

No momento, somente desejo que ele e os seus possam se consolar e guardar tudo o que de bom ficou de sua passagem por esta existência.

sábado, 27 de novembro de 2010

Morar na Cidade Maravilhosa...

...tão cantada, já faz um bom tempo, não é uma tarefa fácil. Finalmente, entretanto, parece-me que algo de novo está acontecendo. Refiro-me expecificamente à reação da população à atuação do Estado. Há um entendimento geral de que é uma crise incontornável.

Como não vejo sentido em chover no molhado, outras coisas me interessam nesse contexto, uma delas quanto ao comportamento geral, falo do espalhamento de boatos, ou seja, é preciso saber como se comportar numa crise, ponderar sobre as coisas ao invés de ajudar ou instigar o tumulto. Essa lição ainda não foi aprendida. Outra é quanto à educação, em amplo senido.

Sabemos que muitas pessoas são atraídas para trabalhar para "o tráfico" por falta de outras oportunidades de trabalho; isto, por sua vez, relaciona-se cada vez mais com a formação. Se antigamente bastava disposição para aprender, acordar cedo e encarar o trabalho, hoje para chegar até uma vaga de emprego alguns diplomas serão necessários.

Nisto temos, é claro, o papel que deve ser desempenhado pelo Estado, mas, o que me interessa mesmo é o papel das famílias: como orientam os seus filhos para a escola, como deveriam estar cuidando do seu comportamento e parecem não estar, o que deveriam ensinar sobre o funcionamento da sociedade, e os cuidados com o próprio aprendizado em si, a formação acadêmica. Ou seja, onde estão as bases da sociedade?

Para aqueles que possam pensar que quero simplificar ou reduzir as grandes mazelas sociais ao círculo familiar, não estão muito errados. Quando temos um filho, estamos assumindo uma série de responsabilidades que vão muito além de custos e não têm prazo pra acabar. Não ter planejado ou ser muito jovem não são desculpas para esse descumprimento generalizado das funções dos Pais e Mães a que temos assistido.

Mesmo a formação política e cidadã não acontece naturalmente, necessitam de ser ensinadas, de haver um espaço para formação constante. Por exemplo, quem gosta de maconha deveria lutar por su legalização, não ficar financiando este poder desastroso que agora está sendo combatido na ponta do fuzil.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Avançando.

Nesta quarta, 24/11/10, saiu o resultado da prova de língua estrangeira instrumental e passei. Agora, haverá a última etapa, composta por entrevista. Embora ainda falte uma etapa, sinto-me estranha por ter já chegado tão longe.
A confiança que as pessoas depositam em nós é uma responsabilidade que pesa. Isso nos move.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

23 de novembro - DIA HERBERTO HELDER

Hoje aconteceu o evento, tão anunciado evento em comemoração dos 80 de nascimento de Herberto Helder, na UFF, organizado pelo (meu) querido Professor Luis Maffei, a Professora Ida Alves, e a equipe (não sei os nomes daquelas maravilhosas pessoas) que tornou este um dia marcante.

Aquelas e Aqueles que apresentaram seus artigos, textos, leituras de Herberto, construiram um evento inesquecível, principalmente pela bela diversidade ali apresentada. E o que fica como principal aprendizado é que HERBERTO é um autor enorme.

Para quem não pode estar lá, recomendo que leiam os textos apresentados, mesmo sabendo que o que vivenciamos durante este dia foi único.

domingo, 21 de novembro de 2010

Ainda sobre o capitalismo.

Quando eu disse, no outro dia, que é possível "alcançar certo conforto material trabalhando", refiro-me a um nível simples de exigências ou necessidades. Porque se, para você, conforto material significa morar num apartamentão no Leblon, tal o pessoal das novelas do Manoel Carlos, e nascestes em São Gonçalo, numa família não detentora de bens materiais, meu bem,.....

Isso me leva a uma linha de raciocínio que pode me marcar com a pecha de cruel, mas, o tal conforto espiritual que as religiões oferecem, lançando mão inclusive de todos os meios de mídia, atualmente, não prestam um grande serviço para manter a maioria trabalhando, submetendo-se, conformada?

Defendo-me dizendo que, para mim, o conforto espiritual não está engaiolado nas religiões e não lhes devo nem direitos autorais ou de patente pelo que vem e vai no meu espírito.

Considerando essa complexidade de questões que o viver impõe, principalmente para quem queira dar-se ao trabalho de olhar, temos as possibilidades de militância política, o que nada mais é do que se propor a interferir, de alguma forma e com consciência. E aqui está o meu dilema "PCdoB".

O Partido Comunista do Brasil entrou na minha vida em 1988, quando eu conheci o Kique na escola (esse mesmo que foi candidato a deputado federal este ano). Isto mudou a minha vida. Tenho dúvidas se eu ainda estaria viva se tivesse continuado restrita à vida sob meus pais. Porque estar à disposição do egoísmo "daqueles dois" teria, em mais alguns anos, acabado comigo. Entrar para o Partido na juventude abriu-me uma porta e chamou-me a olhar para a frente.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sim, os fundamentos do capitalismo me incomodam.

Embora eu imagine que pode ser um grande caus, tamanha ruptura - a da passagem para o socialismo, não assenta em mim que, para haver um rico, tantos tenham de ser condenados a uma existência miserável; que milhões de pessoas tenham como objetivo da existência a mera acumulação material.
A produção industrial, os avanços tecnológicos, deveriam simplesmente permitir que dedicássemos nosso tempo a amar, estudar, conviver, criar; mas somos ensinados a viver para acumular, na ilusão de que é possível conquistarmos tudo o que o dinheiro possa comprar, desde que trabalhemos muito, sejamos muito produtivos, "otimizemos" nosso tempo.

Tolice, tolice, tolice da mais tola que pode haver!! Esse excesso de trabalho gera frutos para o "patrão", não para o empregado - que agora é "colaborador". Tendo emprego e "algum estudo" pode-se, sim, alcançar certo conforto material. Só isso.

Quero olhar para as palavras deste contexto. Colaborador, para começar, traz uma idéia de equiparação, de atitude voluntária, portanto, tudo o que a condição de empegado , de vendedor da própria mão-de-obra em troca de salário, não inclui. Esta ilusão em particular, me parece, visa levar o "colaborador" a esforçar-se para o cumprimento dos objetivos da empresa, como se isso fosse uma competição por mérito.
Conforto. Taí uma palavra "São Pedro", ou seja, cheia de chaves para as portas do significado. Para provocar, falarei de conforto material ou espiritual? Conforto espiritual pode instalar-se sem o material?

" Perguntas, perguntas que devem ser respondidas." (TOLKIEN, 1955).

terça-feira, 16 de novembro de 2010

HERBERTO HELDER - UFF, 23/11/10.

Evento na UFF, dia 23/11 - das 9 às 17h, sala 218C do Instituto de Letras. SOLDADO AOS LAÇOS DAS CONSTELAÇÕES - DIA HERBERTO HELDER.

Biografia

Herberto Helder Luís Bernardes de Oliveira nasceu a 23 de Novembro de 1930 no Funchal, ilha da Madeira, no seio de uma família de origem judaica. Em 1946, com 16 anos, viaja para Lisboa para frequentar o 6º e o 7º ano do curso liceal. Em 1948, matricula-se na Faculdade de Direito de Coimbra e, em 1949, muda para a Faculdade de Letras onde frequenta, durante três anos, o curso de Filologia Romântica, não tendo terminado o curso. Três anos mais tarde regressa a Lisboa, começando por trabalhar durante algum tempo na Caixa Geral de Depósitos e depois como angariador de publicidade, sendo que durante este tempo vive, por razões de ordem vária e pessoal, numa «casa de passe».

Em 1954, data da publicação do seu primeiro poema em Coimbra, regressa à Madeira onde trabalha como meteorologista, seguindo depois para a ilha de Porto Santo. Quando em 1955 regressa a Lisboa, frequenta o grupo do Café Gelo, de que fazem parte nomes como Mário Cesariny, Luiz Pacheco, António José Forte, João Vieira e Hélder Macedo. Durante esse período trabalha como propagandista de produtos farmacêuticos e redactor de publicidade, vivendo com rendimentos baixos. Três anos mais tarde, em 1958, publica o seu primeiro livro, O Amor em Visita. Durante os anos que se seguiram vive em França, Holanda e Bélgica, países nos quais exerce profissões pobres e marginais, tais como: operário no arrefecimento de lingotes de ferro numa forja, criado numa cervejaria, cortador de legumes numa casa de sopas, empacotador de aparas de papéis e policopista. Em Antuérpia, viveu na clandestinidade e foi guia dos marinheiros no sub mundo da prostituição.

Repatriado em 1960, torna-se encarregado das bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, percorrendo as vilas e aldeias do Baixo Alentejo, Beira Alta e Ribatejo. Nos dois anos seguintes publica os livros A Colher na Boca, Poemacto e Lugar. Em 1963 começa a trabalhar para a Emissora Nacional com redactor de noticiário internacional, período durante o qual vive em Lisboa. Ainda nesse mesmo ano publica Os Passos em Volta e produz A máquina de emaranhar paisagens. Em 1964 trabalha nos serviços mecanográficos de uma fábrica de louça, datando desse ano a sua participação na organização da revista Poesia Experimental. Nesse ano reedita ainda Os Passos em Volta, escreve «Comunicação Académica» e publica Electronicolírica. Em 1966 participa na co-organização do segundo número da revista Poesia Experimental e no ano seguinte publica Húmus, Retrato em Movimento e Ofício Cantante. Data de 1968 a sua participação na publicação de um livro sobre o Marquês de Sade, o que o leva a ser envolvido num processo judicial no qual foi condenado. Porém, devido às repercussões deste episódio consegue obter suspensão de pena, facto este que não conseguiu evitar que fosse despedido da Rádio e da Televisão portuguesas. Refugia-se na publicidade e, posteriormente, numa editora onde desempenha o cargo de co-gerente e director literário. Ainda nesse ano publica os livros Apresentação do Rosto, que foi suspenso pela censura, O Bebedor Nocturno e ainda Kodak e Cinco Canções Lacunares.

Em 1970 viaja por Espanha, França, Bélgica, Holanda e Dinamarca, publicando nesse ano a terceira edição de Os Passos em Volta e escreve Os Brancos Arquipélagos. Em 1971 desloca-se para Angola onde trabalha como redactor numa revista. Enquanto repórter de guerra é vítima de um grave desastre tendo que ser hospitalizado durante três meses. Data ainda desse ano a publicação de Vocação Animal e a produção de Antropofagias. Regressa a Lisboa e parte de novo, desta vez para os E.U.A., em 1973, ano durante o qual publica Poesia Toda, obra que contém toda a sua produção poética, e faz uma tentativa frustrada de publicar Prosa Toda. Em 1975 passa alguns meses na França e Inglaterra, regressando posteriormente a Lisboa onde trabalha na rádio e em revistas, meios restritos de sobrevivência económica. Em 1976, Herberto Helder participa na edição e organização da revista Nova que, sendo posterior à revolução de 25 de Abril de 1974, reconhecia na Literatura portuguesa características que a aproximaram às Literaturas latino-americana, africana e espanhola, declinando uma direcção literária revolucionária cuja actividade não ultrapassou o plano teórico devido à instabilidade política portuguesa que se fazia sentir na altura. Nos anos que se seguiram publicou as obras Cobra, O Corpo, O Luxo, A Obra e Photomaton e Vox. A última referência encontrada da instabilidade biográfica de Herberto Helder referia-se ao facto de o poeta ter abandonado todas as suas anteriores actividades e de viver no mais cioso dos anonimatos.

Fonte - http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/helder/biogra.html

domingo, 14 de novembro de 2010

E foi a seugnda prova...

.na quinta. É nessas horas que a gente tem certeza da importância de ter dinheiro para dar uma formação completa aos nossos filhos, e lamenta - no meu caso - não ter recebido isso em casa na idade certa.

Foi uma prova de inglês com quatro páginas de texto!!! quatro páginas de texto!!!

Quando a gente nunca fez curso de inglês, é uma prova difícil, mesmo sendo composta por perguntas simples. Até dia vinte e quatro, estou naquele momento "rezando pra ter passado".

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Avançando.

Nesta sexta (05/11) peguei o resultado da primeira etapa do processo de admissão para o Mestrado, na UFF: passei. Agora faltam mais duas etapas, que se compeltarão até o final do mês. Quando (!!!) eu for aprovada, serei a pessoa em toda a minha família, dos dois lados, com o maior nível de escolarização.

Lembro-me da minha mãe. Ela não chegou a frequentar a escola, nunca na vida. Por isso mesmo, não mediu esforços para colocar e manter seus filhos lá. Passou três dias na fila em 1978 para garantir a primeira matrícula lá de casa. Isso asseguraria também as outras duas. Lembro-me do primeiro dia de aula da minha vida, na escola: 4 de março de 1980 - meu sétimo aniversário. Naquele tempo, usávamos aquela saia de pregas, camisa de tergal com emblema no bolso, sapatos engrachados e meias brancas.

Acabei o segundo grau com 17 anos, mas não entrei pra faculdade. Foi uma ausência de dezesseis anos, sanada com o advento do PRO-UNI. Graduação em Letras entre 2006 e 2008, especialização em curso na UERJ. Passando pro Mestrado me tornarei a pessoa a alcançar o maior nível de escolaridade de toda a minha família.

Na minha casa, estudamos muito meus filhos e eu. O primogênito é aluno do Colégio Pedro II. Meu menino de 7 lê muito bem. Minha flrozinha do meio termina o (antigo) Ginásio em 2011. Penso que não há nada mais importante para deixarmos aos nossos filhos. Penso que essa deveria ser a mentalidade neste país.

Enquanto penso, vejo o ranking do IDH: a má qualidade (salvo raríssimas exceções) de nossa educação nos mantendo embaixo, abaixo do nosso potencial. Mas, acho fundamental, essa razão está exposta.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Por que escolhi falar sobre Jorge de Sena...

...no Mestrado?

Em primeiro lugar, da primeira vez em que li um poema seu, senti-me incluída:

"Hoje, fiz uma lista de livros, e não tenho dinheiro para os poder comprar.
É ridículo chorar falta de dinheiro
para comprar livros,
quando a tantos ele falta para não morrerem de fome. "

Além de eu não estar acostumada com tal sentimento, não o esperava no simples gesto de estudar literatura numa pós-graduação. Logo em seguida descobri que ele era marxista, e isto também está em seus escritos.

Do ponto de vista estético, ou da aparência mesmo de seus poemas, acho belos os seus versos, bem como no modo em que aborda temas como o amor e as dificuldades financeiras inerentes à vida inserida num mundo capitalista, por exemplo.

" Conheço o sal... "

Conheço o sal da tua pele seca
depois que o estio se volveu inverno
da carne repousada em suor noturno.

Conheço o sal do leite que bebemos
quando das bocas se estreitavam lábios
e o coração no sexo palpitava.

Conheço o sal dos teus cabelos negros
ou louros ou cinzentos que se enrolam
neste dormir de brilhos azulados.

Conheço o sal que resta em minhas mãos
como nas praias o perfume fica
quando a maré desceu e se retrai.

Conheço o sal da tua boca, o sal
da tua língua, o sal de teus mamilos,
e o da cintura se encurvando de ancas.

A todo o sal conheço que é só teu.
ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,
um cristalino pó de amantes enlaçados."

Madrid, 16/01/1973.

Por fim, sou da opinião que um dos maiores patrimônios dos comunistas são os seus quadros, no sentido da formação política que se comprometem a adquirir, aprofundar e reproduzir. Neste sentido, acho que a obra de Jorge de Sena interessa muito a este segmento de militância, assim como a obra de José Saramago.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Tropa de Elite - um filme em duas partes.

Ontem assisti TROPA DE ELITE 2. Um dia desses havia assistido TROPA 1, porque queria assistir ao segundo. A primeira coisa que me parece é que é um filme em duas partes, não um filme com continuação. Também me impressionou a narrativa, muito bem organizada, didática sem ser massante, e com um humor refinado, composto com o auxílio de muita ironia.

Não sei quanto aos outros, mas sendo carioca e conhecendo bem os referentes de que o filme lança mão, fiquei com a cabeça cheia de coisas pra pensar. Acho isso uma qualidade numa obra de arte.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

2 de novembro de 1919 - nascimento de JORGE DE SENA.

Hoje completam-se 91 anos do nascimento deste grande poeta (que escreveu diversamente, mas se intitulava sobretudo poeta). Já fazem 32 anos que faleceu. Um dia muito apropriado para inaugurar este novo encaminhamento e visual para este meu blog, pois me parece que tenho interesses comuns com Sena, no que concerne a olhar para a sociedade e pensar nela.

No início deste ano fui cursar um crédito avulso no Mestrado da UFF. Foi com o Professor Luis Maffei (seu Mestrado e Doutorado foram sobre Herberto Helder). O Maffei é "fera" em literatura. foi com ele que conheci os escritos de Jorge de Sena. correto é dizer que com ele parei diante de uma porta que alargaria os tamanho dos meus horizontes - Jorge de Sena.

Intento aqui escrever com variedade, mas sempre com um olho nesta sociedade, neste nosso século ainda por definir e entender, portanto não falarei somente da obra seniana.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

um recesso.

estou sumida. estudando pra prova do mestrado.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

BIBLIOTECAS PÚBLICAS, PROFISSÕES E MEIOS DE VIDA.

“Estaríamos nos tornando mais capazes de encontrar informações com agilidade, e incapazes de ler textos mais longos e complexos.”

A colocação acima, do autor Nicholas Carr (no livro O Google está nos deixando estúpidos?), está na revista Língua Portuguesa n°58 Agosto de 2010, referindo-se ao comportamento desta nossa sociedade tão conectada pela Internet.

Recentemente, logo após o falecimento do escritor Saramago, recebi um e-mail com slides sobre sua biografia, dentre eles um que é sempre bom lembrar: o Nobel português, de origem pobre, somente freqüentou a escola para um profissionalizante e foi trabalhar.

Isso me lembra a opção de educação do José Serra este ano, pois pobre – para ele - só tem de ser “preparado” para o mercado de trabalho.

Meu, nosso, saudoso José de Sousa Saramago freqüentava bibliotecas públicas depois do expediente. A leitura foi fundamental na formação de um mestre.

Essas duas diferentes situações me levam a falar de um fato incômodo: São Gonçalo, onde eu moro, é o segundo colégio eleitoral do Estado do Rio de Janeiro e não tem uma única biblioteca pública em funcionamento. Poucas escolas aqui tem biblioteca, que, além de serem restritas aos alunos, permanecem fechadas na maior parte do tempo.

Fico pensando como será o nosso futuro se não estamos tratando de assuntos tão essenciais quanto a formação das pessoas. Isso envolve, por exemplo, os caminhos que os jovens terão para construir suas vidas.

Um assunto ligado a esse, que também me incomoda muito: o caso de Elisa Samudio. Além de engrossar as vergonhosas estatísticas de violência contra a mulher, que demonstram que a sociedade ainda não forma seus homens para respeitar a mulher, a história dessa jovem passa pelo abandono da escola e a busca por sustento através do filho de um homem com dinheiro e fama, porque considero que alguém que deseja seguir carreira como modelo costuma cuidar do corpo, não ficar grávida. Essas coisas, penso-as por ter visto os vídeos gravados pela própria, em que ela aparece dizendo que saía com vários jogadores.

Essa semana, num treino do time do Santos, dias antes desta sua última conquista, a Globo mostrava moças, bem jovens, gritando “lindo, lindo!” para aqueles jogadores, nos quais a maior beleza me pareceu ser a extensão de suas contas bancárias. Quem gosta de futebol, seja homem, mulher ou criança, vai lá curtir a qualidade do time, não ficar se oferecendo como elas estavam fazendo.

Enfim, quando vamos cuidar de fato, enquanto sociedade, da construção do nosso futuro?

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

HOJE FAZEM 65 ANOS...

...que a bomba foi lançada em Hiroshima.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

ANDAR NO CENTRO DO RIO...





Está ficando muito difícil. Acabo de fazer um trajeto de cinco minutos, do meu trabalho até esta lan house onde acesso internet, e começou um corre-corre. era a Guarda Municipal tentando surpreender os camelôs, de cacetetes em punho, em ponto de acertar algum passante.

Não acredito que perseguir trabalhadores informais seja solução para os problemas da cidade, quer de espaço nas ruas, quer de emprego para a população.

E aí, não tem jeito, ou o país trata das suas questões em conjunto, começando pela reforma agrária, que manteria as pessoas nos seus lugares e, consequentemente, ajudaria a ordenar os grandes centros urbanos, para ser bem sucinta.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

MST ABSOLVIDO PELO CONGRESSO NACIONAL.

Frei Betto: Congresso absolve MST

O MST jamais desviou dinheiro público para realizar ocupações de terra — eis a conclusão da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito(CPMI), integrada por deputados federais e senadores, instaurada para apurar se havia fundamento nas acusações, orquestradas pelos senhores do latifúndio, de que os movimentos comprometidos com a reforma agrária se apoderaram de recursos oficiais.

Por Frei Betto, no Correio Braziliense
Em oito meses, foram convocadas 13 audiências públicas. As contas de dezenas de cooperativas de agricultores e associações de apoio à reforma agrária foram exaustivamente vasculhadas. Nada foi apurado. Segundo o relator, o deputado federal Jilmar Tatto (PT-SP), “foi uma CPMI desnecessária”.

Não tão desnecessária assim, pois provou, oficialmente, que as denúncias da bancada ruralista no Congresso são infundadas. E constatou-se que entidades e movimentos voltados à reforma fundiária desenvolvem sério trabalho de aperfeiçoamento da agricultura familiar e qualificação técnica dos agricultores.

O que os denunciantes buscavam era reaquecer a velha política — descartada pelo governo Lula — de criminalizar os movimentos sociais brasileiros. Esse tipo de terrorismo tupiniquim a história de nosso país conhece bem: Monteiro Lobato foi preso por propagar que havia petróleo no Brasil (o que prejudicou os interesses norte-americanos); foram chamados de comunistas os que defendiam a criação da Petrobras; e, de terroristas, os que lutavam contra a ditadura e pela redemocratização do país.

A comissão parlamentar significou, para quem insistiu em instaurá-la, um tiro saído pela culatra. Ficou claro para deputados e senadores bem intencionados que é preciso votar, o quanto antes, o projeto de lei que prevê a desapropriação de propriedades rurais que utilizam trabalho escravo em suas terras. E resolver, o quanto antes, a questão dos índices de produtividade da terra.

A investigação trouxe à luz não a suposta bandidagem do MST e congêneres, como acusavam os senhores do latifúndio, e sim a importância desses movimentos no atendimento à população sem terra. Eles cuidam da organização de acampamentos e assentamentos e, assim, evitam a migração que reforça, nas cidades, o cinturão de favelas e o contingente de famílias e pessoas desamparadas, sujeitas ao trabalho informal, ao alcoolismo, às drogas, à criminalidade.

Segundo Jilmar Tatto, os inimigos da reforma agrária “fizeram toda uma carga, um discurso muito raivoso, colocaram dúvidas em relação ao desvio de recursos públicos e perceberam que a montanha tinha parido um rato. Porque não havia desvio nenhum. As entidades e o governo abriram todas as suas contas. Foram transparentes e, em nenhum momento, conseguiu-se identificar um centavo de desvio de recurso público. Foram desmoralizados (os denunciantes), e resolveram se ausentar dos trabalhos da CPMI. (...) Foi um trabalho produtivo, no sentido de deixar claro que não houve desvio de recurso público para fazer ocupação de terras no Brasil. O que houve foi a oposição fazendo uma carga muito grande contra o governo e o MST”.

Os parlamentares sensíveis à questão social no Brasil se convenceram, graças ao trabalho da comissão, de que é preciso aumentar os recursos para a agricultura familiar; garantir que a legislação trabalhista seja aplicada na zona rural; e incentivar sempre mais os plantios alternativos e os alimentos orgânicos, sobre cuja qualidade nutricional não paira a desconfiança que pesa sobre os transgênicos. E, sobretudo, intensificar a reforma agrária no país, desapropriando, como exige a Constituição, as terras improdutivas.

Dados recentes mostram que, no Brasil, se ocupam 3 milhões de hectares com a lavoura de arroz e 4,3 milhões com feijão. Segundo o geógrafo Ricardo Alvarez, se compararmos com os 851 milhões de hectares que formam este colosso chamado Brasil veremos que as cifras são raquíticas. Apenas 0,85% do território nacional está ocupado com o cereal e a leguminosa. Um aumento de apenas 20% na área plantada significaria passar de 7,3 para 8,7 milhões de hectares, com forte impacto na alimentação do povo brasileiro.

Para Alvarez, o aumento da produção levaria à queda de preços, ruim para o produtor, bom para os consumidores. Caberia, então, ao governo implantar uma política de ampliação da produção de alimentos, garantir preços mínimos, forçar a ocupação da terra, combater o latifúndio, gerar empregos no campo e atacar a fome. Ação muito mais eficiente, graças aos 20% de acréscimo na área plantada, do que o assistencialismo alimentar.

O latifúndio ocupa, hoje, mais de 20 milhões de hectares com soja. No início dos anos 1990, o número beirava os 11,5 milhões. A cana-de-açúcar foi de 4,2 para 6,5 milhões de hectares no mesmo período. Arroz e feijão sofreram redução da área plantada. Hoje o brasileiro consome mais massas do que a tradicional combinação de arroz e feijão, de grande valor nutritivo.

Alvarez conclui: “Não faltam terras no Brasil, faltam políticas de distribuição delas. Não faltam empregos, falta vontade de enfrentar a terra improdutiva. Não falta comida, falta direcionar a produção para atender as necessidades básicas de nossa população”.

Publicado no site: http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=8&id_noticia=134314

Feliz 2010


MAURICIO RAMOS 65345 E KIQUE 6513
MEUS CANDIDATOS. FELICIDADE É PODER VOTAR NESSA DUPLA DE GUERREIROS.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Eleições 2010.

Esta foto que vocês vêem no meu blog é de um grande lutador, um camarada de muitos anos, metalúrgico, sindicalista, alguém que lutou vida toda, e ainda luta, pela melhoria das condições de vida do povo brasileiro. Alguém que me honra com sua amizade.

SOBRE MAURICIO RAMOS.

Nascido no Rio de Janeiro, em 03 de novembro de 1959, Mauricio Ramos é metalúrgico de profissão. Cresceu na cidade de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, onde morava em uma casa de propriedade da fábrica em que seu pai trabalhava.

Em 1976/77, estudou no SENAI em Niterói. Em outubro de 1977, iniciou sua carreira de metalúrgico numa empreiteira dentro do Estaleiro Mauá, na Ponta da Areia. Foi neste ano que também concluiu o segundo grau técnico em Administração. Dois anos depois, já empregado do Estaleiro, teve sua primeira experiência no movimento sindical na greve geral da categoria.

Em março de 1981, trabalhando no Estaleiro Mac Laren, ao participar da greve de 14 dias, conheceu e ingressou no Partido Comunista do Brasil, o PCdoB. Desde então, nos estaleiros, fábricas e obras que trabalhou, tem lutado por uma sociedade mais justa e democrática para os trabalhadores brasileiros, com desenvolvimento econômico, social e a soberania.

No movimento sindical, foi diretor de base do Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói e Itaboraí, e membro do conselho da Federação dos Metalúrgicos do Estado do Rio de Janeiro no triênio de 1983/1986. Em 1999, já no município do Rio, integrou a diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos, sendo eleito presidente em 2002 e reeleito, em 2005.

No ano de 2007, no congresso de fundação da CTB, a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, teve seu nome alçado para ser membro da Direção Nacional. Em 2008, no Congresso Estadual da CTB do Rio de Janeiro, foi eleito presidente estadual da CTB, sendo reeleito no segundo congresso da entidade em setembro de 2009.



Aqui está o Mauricio - vascaino - e o Nobre, com a camisa do América. O Nobre é um exemplo, um camarada para os momentos de luta sempre.


Aqui temos o Mauricinho na porta de uma fábrica, que luta se faz com ações e palavras, mas junto com o povo - sempre!

Continuando...

Acerca da minha postagem anterior, sobre educação e mudanças no ENEM, um colega perguntou-me se acho que essas mudanças resultaram em diminuição das desigualdades sociais. a minha resposta foi a seguinte:

Quem foi que disse que as metas de um governo inserido no capitalismo, como o brasileiro, e que quer alcançar postos de comando neste mundo globalizado está buscando amenizar a desigualdade social? Nã, querido, não acho que as ações tenham este fim. Me parece que as ações visam melhorar a mão de obra necessária ao capital.
O que vejo é que mudanças que visem melhorar a qualidade do ensino podem abrir espaço para o povo, se este for chamado a mudar transformar sua condição.

Mesmo tendo um governo que representa algumas mudanças de pradigma na história do Brasil, como é o caso de um ex-operário nordestino ocupar o cargo, é fato que não estamos num momento de transformação do modelo de sistema de governo, ou seja, continuamos no capitalismo. No entanto, me incomoda o fato de que a educação e formação dos filhos, crianças, menores, foi abandonada por alguns setores, inclusive pessoas com condições materiais.

Estamos construindo o caos, na medida em que temos jovens sem noção de limites, sem consideração e sem objetivos para as suas próprias vidas, no médio e longo prazo principalmente.

sábado, 17 de julho de 2010

É PRECISO DISCUTIR A NOSSA SOCIEDADE...

...começando pelo começo: a educação de nossos filhos, crianças, jovens, ou seja, a educação e a formação dos futuros cidadãos adultos que continuarão esse e nesse mundo.
O Ministério da Educação já começou a mexer na educação ao modificar o ENEM, falando de ações mais recentes. Essas mudanças - principalmente a possibilidade da nota do exame servir para os vestibulares das Universidades Públicas levará, e deve mesmo levar, a mudanças no Ensino Médio, caso contrário os oriundos de escolas públicas continuarão a não competir em igualdade de condições com os alunos das federais e particulares.
(continuarei)

terça-feira, 6 de julho de 2010

Essa eu faço questão de reproduzir do Conersa Afiada.

O Conversa Afiada reproduz as conclusões e as recomendações do relatório da CPI do MST, montada por Kátia Abreu e Ronaldo Caiado, como parte do processo de criminalização do MST.

Essa é a terceira CPI que se monta contra o MST.

Gastam dinheiro, tempo, e concluem a mesma coisa: o MST não rouba.

A propósito, as organizações ligadas à Confederação Nacional da Agricultura da senadora Kátia Abreu recebe, do Governo Federal, VINTE E CINCO VEZES – clique aqui para ler – mais dinheiro do que o MST.

Já se esgotou o prazo desta CPI.

A Senadora Kátia, porém, quer prorrogá-la por mais seis meses.

Deve ser para arranjar uma “crise” que ajude a malograda candidatura do jenio.

Afinal, o jenio mandou a polícia garantir a posse das terras griladas pela Cutrale no interior de São Paulo.

O interessante é que a Senadora Kátia não costuma frequentar as sessões da CPI.

Leia as conclusões e as recomendações do relator Gilmar Tatto, do PT/SP:


5. CONCLUSÕES
Esta Comissão buscou o entendimento aprofundado dos temas que abrangeu, quais sejam, os delimitados no Requerimento nº 24/2009-CN – “o diagnóstico e análise da estrutura fundiária, em especial, a promoção e execução da reforma agrária; e a apuração das causas, condições e responsabilidades relacionadas aos convênios e contratos firmados entre a União e organizações ou entidades de reforma e desenvolvimento agrários; a investigação do financiamento clandestino e da evasão de recursos para invasão de terras”. O trabalho foi pautado pela realização de audiências públicas com a presença de técnicos qualificados e representantes das entidades envolvidas, bem como do Poder Público e pela análise dos convênios auditados, de modo a subsidiar uma ação mais propositiva por parte desta CPMI.
Diante da pobreza e da desigualdade social que ainda assolam o meio rural brasileiro, situação que foi identificada pela Comissão de modo bastante categórico, é obrigação de nossa geração identificar novas formas de combater esse estado de coisas, reforçar as iniciativas que estão obtendo resultados positivos e rever as que não alcançaram seus objetivos. Para isso, são necessárias intervenções educacionais, sócio-econômicas e fiscalizatórias, medidas mais eficazes quando implementadas simultaneamente.
A mudança social profunda necessária para se eliminar a pobreza, a desigualdade e a exclusão que são alimentadas pela grilagem de terras, pelos conflitos agrários e pela escassez de crédito e de assistência técnica
e extensão rural claramente não estão dentro das possibilidades de ação da CPMI. Tampouco é possível sanar as questões formais envolvidas nos problemas existentes na execução e prestação de contas dos convênios por meio de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. No entanto, ela pode ser uma ferramenta valiosíssima para alavancar estes processos. Não se pode perder de vista que o primeiro ponto para tratar as questões é reconhecê-las, e este foi um dos objetivos do trabalho da Comissão.
Neste contexto, buscou-se ouvir testemunhas que pudessem contribuir com a discussão em torno dos temas tratados pela CPMI. As oitivas e as investigações conduzidas por esta Comissão reavivaram velhas questões já discutidas em outros fóruns, entre outras oportunidades, como por ocasião da CPMI da Terra. Agora, novamente apresentaram-se problemas complexos que abrangem não só os de ordem administrativa, mas também recorrentes mazelas advindas da má gestão pública e da verdadeira inaplicabilidade da legislação frente às questões inerentes ao trabalho com comunidades rurais localizadas nos rincões deste país, onde o acesso à informação e o cumprimento de toda a burocracia exigida pela máquina pública é quase impossível.
Ademais, mesmo reconhecendo que o orçamento da reforma agrária tenha tido um crescimento expressivo no governo Lula, ainda assim é patente a insuficiência das dotações orçamentárias e a falta de pessoal qualificado em quantidade suficiente para implementar as diversas ações previstas na Política Nacional de Reforma Agrária, como, por exemplo, a desapropriação, o crédito fundiário, a regularização fundiária, o combate à grilagem de terras, a implantação dos projetos de assentamento, o acesso ao crédito e o acompanhamento e fiscalização dos convênios firmados tanto com Estados e Municípios quanto com entidades civis, entre outras inúmeras ações.
Os dados censitários mostraram de forma cabal que a estrutura agrária mantêm-se inalterada a despeito do esforço do governo em assentar um maior número de famílias de agricultores sem terra, o que evidencia a necessidade de se rever o modelo agrícola brasileiro concentrador de renda e de terra.
Os movimentos sociais, como evidenciado, surgem justamente da continuidade desta contradição, em que os excluídos passam a
exigir seus direitos, dentre estes a realização da reforma agrária em áreas que não cumprem sua função social, conforme previsão constitucional.
Albergado na própria Constituição brasileira encontra-se a matriz, a fonte de legitimidade e de legalidade dos movimentos sociais agrários, porque fundados no direito de livre associação e organização que caracteriza qualquer Estado democrático de direito.
Conclui-se assim, pela inexistência de qualquer irregularidade no fato de as entidades manterem relações e atenderem público vinculado a movimentos sociais, pois a despeito de se constituírem ou não em pessoa jurídica com criação formal ou de fato, são sujeitos históricos detentores de reconhecidos direitos e deveres fundamentais.
Tal legitimidade, no entanto, não exime as entidades que apoiam os movimentos do cumprimento da legislação que rege a aplicação de recursos públicos. Neste particular, as investigações não evidenciaram a existência de irregularidades que se caracterizem favorecimento ilícito ou crime contra a administração pública. (Ênfase minha – PHA)
Quanto aos convênios auditados, conclui-se que os objetos foram realizados. E quando não o foram integralmente deveu-se a decisões judiciais que impediram a continuidade do repasse dos recursos. As inconsistências examinadas caracterizam-se como falhas formais, não se evidenciando dano ao erário, benefícios indevidos nem inexecução dos objetos avençados.
Destarte, consideramos fundamental que o Tribunal de Contas, de posse do Relatório produzido por esta CPMI, continue auditando as transferências voluntárias realizadas pelo Poder Executivo.

E aqui as recomendações:

145 6. RECOMENDAÇÕES
6.1 Acerca dos convênios
- O Poder Legislativo deve estudar aperfeiçoamentos na legislação que regula os convênios, de forma a assegurar que os mesmos gerem produtos mais eficazes, com menor dificuldade burocrática na implementação. Minuta de projeto de lei nesse sentido, a ser apresentado pela CPMI do MST, encontra-se em anexo (Anexo V).
- O TCU e a CGU devem continuar realizando auditorias de acompanhamento da execução dos convênios.
- O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão – MPOG, em parceria com a Controladoria Geral da União, deve promover cursos de capacitação voltados para as entidades civis que firmam convênios com entes federais, visando melhorar o atendimento dos requisitos formais que envolvem os convênios. O treinamento deverá focar a melhoria de qualidade tanto dos projetos elaborados por elas, quanto as normas que regem a despesa pública e as prestações de contas.
- O Ministério do Desenvolvimento Agrário deve dar continuidade à parceria firmada com a Escola Nacional de Administração Pública – ENAP visando qualificar os servidores e os membros dos conselhos para o controle da gasto público.
- O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão – MPOG, em parceria com a Controladoria Geral da União, deve promover ações de combate à terceirização ilegal nos órgãos da administração pública.
- O Poder Executivo deve dar continuidade ao processo de aprimoramento das ações e adequação das normas relativas às transferências de recursos da União mediante convênios e contratos de repasse.
- O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão – MPOG- organize uma força tarefa para analisar o estoque de mais de 50 mil processos em que as prestações de contas não foram analisadas, fato que consta do Relatório do
Tribunal de Contas da União que analisou as contas do Governo da República exercício de 2009.
6.2 Acerca da questão fundiária e da reforma agrária
Ao Poder Executivo
- Envidar esforços no sentido de dotar o Incra, em especial as Superintendências Regionais, de recursos humanos e materiais necessários ao desempenho adequado de suas atribuições.
- Realizar concursos públicos para recompor o efetivo humano do Incra e do MDA, com a garantia de que sejam lotados nas atividades fim da instituição.
- Regulamentar a Lei nº 12.188/2010, que institui a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar e Reforma Agrária.
- Promover o fortalecimento institucional dos órgãos estaduais de ATER, com a garantia de que se aporte recursos para a ação específica de assistência técnica aos assentados da reforma agrária.
- Incrementar a implementação da regularização fundiária na Amazônia Legal, nos moldes do Programa Terra Legal.
- Agilizar as ações de georreferenciamento dos imóveis com áreas abaixo de 4 módulos e a certificação dos demais imóveis.
- Observar a Lei nº 5.709/71, o Decreto 94.965/74, bem como o art. 23 da Lei nº 8.629/93, nas aquisições e nos arrendamentos de imóveis rurais por empresas nacionais com capital majoritariamente estrangeiro.
- Desenvolver programas de recuperação das áreas degradadas e de regularização ambiental dos assentamentos.
- As políticas de desenvolvimento agrário devem ser concebidas e implementadas de forma articulada com as outras políticas setoriais, como as referentes à proteção ambiental, agricultura, ciência e tecnologia, indústria e comércio, entre outras.
- Incrementar e aperfeiçoar os órgãos governamentais de mediação de conflitos agrários.
- Rever os índices de produtividade;
Ao Poder Legislativo
- A Câmara dos Deputados deve priorizar a votação em segundo turno da PEC do Trabalho Escravo. (*)


(*) Essa expressão “trabalho escravo” provoca um frisson na CNA. É a mesma coisa que falar em Ricardo Sergio de Oliveira a bordo do avião do Serra (enquanto no ar).

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Sobre distrituição de terras no Brasil.

Creio que essa seja uma demanda desde que este país existe e que, infelizmente, ainda levará muiuto tempo para ser resolvida. Recentemente travei contato com a REDE DE COMUNICADORES PELA REFORMA AGRÁRIA, tendo comparecido ao seu lançament na ABI em 30.06.10.

Não é preciso dizer que uma reforma agrária séria é crucial para o desenvolvimento deste país, não só pelos seus efeitos no campo, mas no conjunto da organização brasileira mesmo. Nunca seremos UM País sem encarar objetivamente esta questão.

No entanto, quero chamar a atenção para a situação nas cidades, como São Gonçalo aonde moro. Para isso me utilizarei de um texto que apresentei recentemente numa pós-graduação.

No início dos anos 80 do século passado, com a construção da rodovia BR-101 aterrou-se uma área de mangue no município de São Gonçalo. Algum tempo depois iniciou-se, desordenadamente a ocupação de um pedaço de terras pertencente à União Federal, compreendido entre a BR e uma das rua do bairro do Porto Velho. Em 1996 foi fundada legalmente a Associação dos Moradores da Vila Esperança, cujo núcleo dirigente já vinha atuando, desde o início da década de 1990, na defesa dos interesses dos moradores.

No início dos anos 2000 abriu-se a possibilidade legal de ocupação permanente, através de um cadastramento dos moradores junto ao Serviço de Patrimônio da União – Órgão o Governo Federal responsável pela terra que ocupávamos. Com a criação, posteriormente, do Ministério das Cidades, seguido da orientação política de legalização de terras para fins de moradia de cidadãos de baixa renda, iniciamos o longo processo em busca da legalização.

Em convênio firmado entre a UFF e a Prefeitura de São Gonçalo, mediado pela AMOVILE, elaborou-se entre dos anos de 2006 e 2007 o Projeto de Urbanização e Legalização Fundiária da comunidade, cuja construção no momento encontra-se em fase de licitação.

ANÁLISE CRÍTICA DA EXPERIÊNCIA.


As questões relacionadas à moradia no Brasil remontam mesmo ao início da ocupação pós-descobrimento. Uma história marcada por políticas excludentes, quando havia, modificando-se – quando muito – o modelo apenas, mas mantendo-se sempre o caráter excludente. O direito à moradia está na base da cidadania e inclusão social de qualquer nação que se queira edificar sobre bases sólidas. Neste sentido, o maior objetivo a ser atingido através da AMOVILE, a razão principal de sua fundação foi a luta por moradia digna para seus associados; luta que vem avançando lentamente ao longo dos últimos dez anos, tendo à frente o seu obstinado Presidente – Wanderley dos Santos, e na qual já dediquei muito tempo, assessorando nas tarefas ligadas à burocracia em geral, bem como na condução de muitas das assembléias realizadas.

Partindo da mobilização da comunidade, através da realização de assembléias e publicação de pequenos jornais, a AMOVILE buscou os caminhos necessários à inclusão da ocupação, do ponto de vista da legalidade, como parte integrante de São Gonçalo. Para isso, buscou relacionar-se com outras associações, universidades, entidades estaduais de associações de moradores, parlamentares e com os poderes municipais, mantendo-se como representante dos moradores, não permitindo que se tornasse braço eleitoral de quem quer que fosse.

Fruto da relação com a UFF, que possui um núcleo de pesquisas aplicadas na área de engenharia – o NEPHU, surgiu o Projeto de Urbanização e Regularização Fundiária da comunidade, cuja elaboração contou com a participação de estudantes/estagiários dos cursos de engenharia, serviço social e direito, coordenados pela Prof. Regina Biernstein. Tal elaboração foi um longo processo que envolveu, além das necessidades legais e técnicas inerentes, o atendimento a demandas de ordem social, tendo sido discutido passo-a-passo com os moradores em assembléias semanais.

Em nosso entendimento, enquanto entidade representativa daquela comunidade, a elaboração e futura execução de tal projeto constituiu um exercício de cidadania, bem como uma grande oportunidade para a formação cidadã dos moradores, em oposição a essa cultura passiva de aguardar que “políticos” ou governantes venham trazer soluções prontas, delegando assim a outrem os rumos de suas vidas, prática que, a meu ver, deforma o cidadão. A intervenção da Associação também está marcada no projeto, que conta com áreas para a realização de caminhadas e demais atividades físicas em geral, bem como espaço para a instalação de uma grande biblioteca pública, considerando, além das nossas próprias necessidades educacionais, o fato de que São Gonçalo é um município que não conta com este tipo de equipamento comunitário.

Finalmente, com o projeto finalizado, ao invés de esperarmos que a Prefeitura disponibilizasse verbas que, percebemos após sucessivas consultas, não haveriam, viabilizamos, através de inúmeras articulações envolvendo universidades, ONGs e parlamentares, a inclusão do mesmo nas verbas do programa MINHA CASA, MINHA VIDA do governo federal. Agora aguardamos a execução.


CONSIDERAÇÕES FINAIS.


Em que pese o fato de o projeto ainda não estar materializado, o processo que culminou com sua elaboração e viabilidade econômica, tem trazido frutos para a comunidade, destacadamente a elevação do nível de escolaridade de seus moradores. Mesmo ainda havendo problemas a resolver nesta área, como a defasagem etária e a baixa qualidade da formação resultante dos anos nas escolas públicas, muitos que não completaram o Ensino Médio tem retornado aos estudo, sobretudo as mulheres e isso constitui a maior das vitórias.

Pensando em níveis de violência e estatísticas, em dez anos sem a intervenção e conseqüente impacto da luta por moradia, nossa comunidade já poderia, há muito, estar figurando no noticiário policial como ponto de venda de drogas, e não está. Somos “ um lugar” onde os parentes podem ser visitados sem medo além do comum a esse momento caótico em níveis mundiais.

Para a AMOVILE, que manteve-se incorruptível ao longo desse processo, mesmo com todas as investidas em épocas eleitorais para cooptar nossa liderança em prol de A ou B, fica a certeza do dever cumprido.

sábado, 15 de maio de 2010

CONVERSAR

Não sei qual é a etimologia da palavra conversar, sei que é algo que fazemos cada vez menos e que é fundamental para aprendermos. O meu professor do mestrado, muito bom no que faz por sinal, chama nossos encontros semanais de conversas.

Um dia desses em que uma série de coincidências estranhas fez com que não houvesse aulas na especialização que eu faço. Então, já estava lá mesmo, passei um tempo conversando com um colega de turma. Foi um tempo bem empregado, já que vivemos numa sociedade onde tempo é dinheiro.

Conversar pressupõe ouvir e pensar sobre o que o outro está diozendo, senão não é conversa, é qualquer outra coisa. Alguém(s) já disse que nos vemos melhor através do outro, que precisamos de alguém, que não é à toa que vivemos em sociedade. No entanto, desde a invenção do cooper e do walkman busca-se impedir que os membros desta sociedade interajam, certamente um medo de que organizados, conversando, estudando e aprendendo percebam como este sistema inviabiliza a existência humana plena, voltando-se contra ele.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

SOBREVIVEMOS...

à água. Até quando continuaremos nos enganando???

sábado, 27 de março de 2010

A TRAJÉDIA É ESSA MESMA: ELES SÃO CULPADOS!

Essa madrugada foi dada a sentença no julgamento pela morte da menina Isabela: culpados. Em que pese a sensação de que a justiça foi feita, ao mesmo tempo não dá pra ficar feliz com isso, pois significa que um pai matou uma filha - essencialmente. Essa é a trajédia e, em que pesa a conclusão do julgamento, o fato permanecerá.

É lamentável e é o caso de perguntarmos que raio de sociedade é essa em que vivemos e que, cotidianamente, continuamos a construir em que um pai mata uma filha.

segunda-feira, 15 de março de 2010

EMPRESAS CONCESSIONÁRIAS DE SERVIÇOS ESSENCIAIS

Ou, em outras palavras, fontes de dor de cabeça.
Ninguém imagina o petróleo, que tem muito valor no capitalismo, sendo tratado por empresas incompetentes, não é. Porque não é assim com as empresas fornecedoras de energia elétrica e água?

Estou desde ontem, às 18, sem luz e nem sequer consigo falar com a AMPLA, que (infelizmente) é a concessionária nas mãs de quem eu peno constantemente. E nem com a ANEEL, a tal agência reguladora, que não regula nada, se consegue falar.

Estou aqui trabalhando com a cabeça lá, pois meus anjos estão sem luz. Já não dormimos bem, nenhum deles foi pra escola. Se a luz não voltar nem eu ierei à aula, na pós-graduação na UERJ, pois não poderei produzir nada com minha casa sem luz.

No Rio de Janeiro sempre choveu e ventou. Por que, em nome de Deus, uma empresa que não tem capacidade para fornecer energia ou reestabelecê-la quando chove e venta se aventurou a ser responsável por tal serviço? O que precisa acontecer para o governo brasileir perceber que isso não funciona?

sábado, 13 de março de 2010

ESCOLAS, PRESÍDIOS E SINÔNIMOS.

Segundo me consta e o dicionário confirma, escola e presídio não são sinônimos. No entanto, sempre que conversos com colegas que estão lecionando no Ensino Fundamental, pois eu estou só num pré-vestibular comunitário - por enquanto, fico com a impressão de que essas instituições estão se aproximando demais.
São agrassões verbais, físicas, alunos armados com facas (como o rapaz lá na Bahia, cuja mãe tinha conhecimento do seu hábito de ir armado pra escola com uma faca grandona).

Mesmo não estando na sala de aula, mas tendo filhos na escola, parece que matriculei meu menino no lugar errado, pois as crianças querem brincar de bater e machucar.

Continuo a perguntar: O que estão esperando para cobrar das mães e pais as suas responsabilidades na educação dos filhos? Esquecemos uma norma tão básica que já ouvi mãe dizendo que não entende porque acham que ela deve responder por uma filha de dezesseis anos que "foi morar" com um rapaz aos 15, como se o fato dela ter "arranjado um homem" a tornasse maior de idade perante a lei.

terça-feira, 2 de março de 2010

Adolescentes de hoje, jovens de ontem...

Já ouviu gente mais velha dizendo: antigamente...., ou então: no meu tempo..., saudosos de outros tempos, quando as coisas eram diferentes e pareciam melhores? Tenho ouvido muito isso com relação aos jovens.

Aqui onde eu trabalho volta e meia temos uma dificuldade suprema em preencher vagas para tarefas simples, porque a galera não quer "nada com a hora do Brasil". É difícil achar gente nova que valorize o trabalho, que queira construir uma vida profissional. Querem dinheiro, sim, independência, às vezes, mas não querem fazer por merecer, sabe? Enrolam no trabalho sempre que podem e reclamam o tempo todo, mas parecem querer que as coisas caiam do céu resolvidas.

Acho que estou ficando velha, pois também tenho saudades da juventude da "minha época": Renato Russo, Herbert Vianna, nossas passeatas por passe-livre e meia-entrada, os Grêmios lutando por democracia nas escolas. Bons tempos os anos 80.

segunda-feira, 1 de março de 2010

TERREMOTO NO CHILE

E aí confirma-se aquilo que já havia sido imaginado: olha a diferença que faz um país estruturado passar por uma catástrofe natural e veja a diferença nos resultados. Com tudo o que há para lamentar quando de um evento como esse, não somaram mil mortos (graças a Deus) vitimados pelo terremoto no Chile, que foi de maior intensidade do que o do Haiti, onde perderam-se cerca de trezentos mil humanos.

Até aí, todo mundo ouviu a imprensa dizer o mesmo que eu. Qual a importância de abordar esse assunto, então? Eu respondo:
-Estamos aqui, num país de grande extensão territorial e diversidade, portanto, detentor de grandes potenciais a serem realizados, ao mesmo tempo que habitado por um povo que não enxerga isso.
-O que estamos fazendo da formação de nossos filhos? Ricos, formando para mandar ou aproveitar-se do sistema? Pobres, para não serem ninguém, porque não estão sendo bem formados?
-Só para ficarmos num assunto, olha o ENEM "novo". Que escola está preparando os alunos par esse tipo de avaliação?
-Olhemos em volta, o que nosso povo está fazendo pelo próprio futuro neste mundo globalizado e selvagem?

Boa semana.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

palavras de José Saramago

8 de Fevereiro de 2010 - 19h22

José Saramago: "Quantos Haitis?"

No Dia de Todos os Santos de 1755 Lisboa foi Haiti. A terra tremeu quando faltavam poucos minutos para as dez da manhã. As igrejas estavam repletas de fiéis, os sermões e as missas no auge…

José Saramago, em seu blog O Caderno de Saramago
(reprodução da página www.vermelho.org.br)

Depois do primeiro abalo, cuja magnitude os geólogos calculam hoje ter atingido o grau 9 na escala de Richter, as réplicas, também elas de grande potência destrutiva, prolongaram-se pela eternidade de duas horas e meia, deixando 85% das construções da cidade reduzidas a escombros.

Segundo testemunhos da época, a altura da vaga do tsunami resultante do sismo foi de vinte metros, causando 600 vítimas mortais entre a multidão que havia sido atraída pelo insólito espectáculo do fundo do rio juncado de destroços dos navios ali afundados ao longo do tempo.

Os incêndios durariam cinco dias. Os grandes edifícios, palácios, conventos, recheados de riquezas artísticas, bibliotecas, galerias de pinturas, o teatro da ópera recentemente inaugurado, que, melhor ou pior, haviam aguentado os primeiros embates do terramoto, foram devorados pelo fogo.

Dos 275 mil habitantes que Lisboa tinha então, crê-se que morreram 90 mil. Conta-se que à pergunta inevitável “E agora, que fazer?”, o secretário de Estrangeiros Sebastião José de Carvalho e Melo, que mais tarde viria a ser nomeado primeiro-ministro, teria respondido “Enterrar os mortos e cuidar dos vivos”.

Estas palavras, que logo entraram na História, foram efetivamente pronunciadas, mas não por ele. Disse-as um oficial superior do exército, desta maneira espoliado do seu haver, como tantas vezes acontece, em favor de alguém mais poderoso.

A enterrar os seus cento e vinte mil ou mais mortos anda agora o Haiti, enquanto a comunidade internacional se esforça por acudir aos vivos, no meio do caos e da desorganização múltipla de um país que mesmo antes do sismo, desde gerações, já se encontrava em estado de catástrofe lenta, de calamidade permanente.

Lisboa foi reconstruída, o Haiti também o será. A questão, no que toca ao Haiti, reside em como se há-de reconstruir eficazmente a comunidade do seu povo, reduzido não só à mais extrema das pobrezas como historicamente alheio a um sentimento de consciência nacional que lhe permitisse alcançar por si mesmo, com tempo e com trabalho, um grau razoável de homogeneidade social.

De todo o mundo, de distintas proveniências, milhões e milhões de euros e de dólares estão sendo encaminhados para o Haiti.

Os abastecimentos começaram a chegar a uma ilha onde tudo faltava, fosse porque se perdeu no terramoto, fosse porque nunca lá existiu. Como por ação de uma divindade particular, os bairros ricos, em comparação com o resto da cidade de Porto Príncipe, foram pouco afectados pelo sismo.

Diz-se, e à vista do que aconteceu no Haiti parece certo, que os desígnios de Deus são inescrutáveis. Em Lisboa as orações dos fiéis não puderam impedir que o teto e e os muros das igrejas lhes caíssem em cima e os esmagassem.

No Haiti, nem mesmo a simples gratidão por haverem salvo vidas e bens sem nada terem feito para isso, moveu os corações dos ricos a acudir à desgraça de milhões de homens e mulheres que não podem sequer presumir do nome unificador de compatriotas porque pertencem ao mais ínfimo da escala social, aos não-ser, aos vivos que sempre estiveram mortos porque a vida plena lhes foi negada, escravos que foram de senhores, escravos que são da necessidade.

Não há notícia de que um único haitiano rico tenha aberto os cordões ou aliviado as suas contas bancárias para socorrer os sinistrados. O coração do rico é a chave do seu cofre-forte.

Haverá outros terramotos, outras inundações, outras catástrofes dessas a que chamamos naturais. Temos aí o aquecimento global com as suas secas e as suas inundações, as emissões de CO2 que só forçados pela opinião pública os governos se resignarão a reduzir, e talvez tenhamos já no horizonte algo em que parece ninguém querer pensar, a possibilidade de uma coincidência dos fenômenos causados pelo aquecimento com a aproximação de uma nova era glacial que cobriria de gelo metade da Europa e agora estaria dando os primeiros e ainda benignos sinais.

Não será para amanhã, podemos viver e morrer tranquilos. Mas, di-lo quem sabe, as sete eras glaciais por que o planeta passou até hoje não foram as únicas, outras haverá.

Entretanto, olhemos para este Haiti e para os outros mil Haitis que existem no mundo, não só para aqueles que praticamente estão sentados em cima de instáveis falhas tectônicas para as quais não se vê solução possível, mas também para os que vivem no fio da navalha da fome, da falta de assistência sanitária, da ausência de uma instrução pública satisfatória, onde os fatores propícios ao desenvolvimento são praticamente nulos e os conflitos armados, as guerras entre etnias separadas por diferenças religiosas ou por rancores históricos cuja origem acabou por se perder da memória em muitos casos, mas que os interesses de agora se obstinam em alimentar.

O antigo colonialismo não desapareceu, multiplicou-se numa diversidade de versões locais, e não são poucos os casos em que os seus herdeiros imediatos foram as próprias elites locais, antigos guerrilheiros transformados em novos exploradores do seu povo, a mesma cobiça, a crueldade de sempre.

Esses são os Haitis que há que salvar. Há quem diga que a crise econômica veio corrigir o rumo suicida da humanidade. Não estou muito certo disso, mas ao menos que a lição do Haiti possa aproveitar-nos a todos.

Os mortos de Porto Príncipe foram fazer companhia aos mortos de Lisboa. Já não podemos fazer nada por eles. Agora, como sempre, a nossa obrigação é cuidar dos vivos.

Fonte: O Caderno de Saramago


COMENTÁRIO

•O poder das palavras corretas.
08/02/2010 20h46

" Catástrofe lenta e calamidade permanente". Esta me parece ser a definição do Haiti, uma constatação essencial para o encaminhamento da sua reconstrução. É bom que a humanidade acostume-se a cuidar dos vivos em todo o mundo, que reveja o modo de vida e passe a dar importância ao que é fundamental, modificando essa mentalidade consumista inútil instalada pelo capitalismo vigente. Saramago, como sempre, prestando um serviço à humanidade, através da reflexão e informações contidas em suas palavras.

BEATRIZ HELENA SOUZA
Rio de Janeiro - RJ

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Órfãos do Brasil, órfãos do Haiti.

Qual a diferença entre órfãos? Quanto essas diferenças implicam no tempo que levará para serem adotados, ou impedirá que sejam escolhidos?

Esta semana estava ouvindo, na voz do Brasil, que estão lá em Brasília discutindo a regulamentação da adoção de crianças haitianas. De fato, o Haiti precisa de tudo nesse momento, para ser reconstruído. Me ocorrem algumas perguntas:

- reconstruir o país ou levar aquele povo a construir um novo País?
- Estamos sem crianças para adotar aqui e precisamos adotar as de fora?

Se alguém vai, por mais que seja sob coordenação da ONU, reconstruir o País por eles, continuarão à mercê de nova catástrofe, seja ela qual for. Não devemos nos esquecer que vários países do mundo sofrem frequentes terremotos e prepararam-se para isso. Penso que é preciso, claro, nesse momento de urgência, socorrer em tudo o que for necessário, sob coordenação da ONU, e assim que possível, concomitantemente, levar o povo a construir um país, no que refiro-me específicamente às instituições e à estrutura material de que se compõe uma nação.

Isso está ocupando a minha cabeça. Não, não estou me sentindo desumana por pensar isso, é porque se a pessoa não anda por suas próprias pernas, não anda - é levada. Há muita diferença entre andar e ser levado.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

o sol nasce pra todos...



Esta linda e maravilhosa imagem é do nascer do sol, hoje, na Praia Vermelha - RJ. Peguei na página do JB Online faz uns minutos.

Já dizia Renato Russo: "Quando o sol bater na janela do teu quarto lembra e vê que o caminho é um só. Por que esperar? Se podemos começar tudo de novo, agora mesmo. A humanidade é desumana, mais ainda temos chance. O sol nasce pra todos, só não sabe quem não quer."

Sábio Renato. De fato, em que pese vivermos mergulhados num sistema econômico excludente, que impões a dinâmica da sociedade e influencia na cultura e nos comportamentos, temos que fazer a nossa parte, temos algumas escolhas, sim! Não vale é se acomodar, ou não ter coragem de lutar pelo que se quer e depois ficar "posando de vítima das circunstâncias", como também cantou Lulu Santos.

Vamos procurar, vamos ler, vamos cantar e ouvir os artístas, há muito o que se aprender. Olha outro sábio: Gonzaguinha - "viver e não ter a vergonha de ser feliz! Cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz! Eu sei que a vida devia ser bem melhor e será, mas isto não impede que eu repita: é bonita! é bonita e é bonita!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O que é democracia dos meios de comunicação?

Tô vendo, ouvindo e assistindo em tudo quanto é lugar essa polêmica gerada pelas atitudes de Hugo Chaves na Venezuela. Mas, vamos lá e voltemos aqui:
O que é democracia dos meios de comunicação? Nós, aqui no Brasil, temos isso?

Emissoras de comunicação, de qualquer tipo, são concessões do Estado à iniciativa privada, ongs, grupos enfim. Na prática, é somente para quem tem dinheiro, aqui. E nenhuma preocupação com a formação da população, né?

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Andando nas ruas do centro do Rio.

Sempre que ando nas ruas aqui, pois trabalho no Centro do Rio de Janeiro, ex-capital da República e ex-morada de família real, penso nessa quantidade de pedintes concentrados aqui, proncipalmente naqueles que ficam em portas de bancos, estacionamentos e lanchonetes Fast-food. Não me parece ser por mera coincidência.

Em Victor Hugo encontramos o "pátio dos milagres", uma indicação de que se os poderosos enganam, os pobres podem fazê-lo também. Não, não estou defendendo o capitalismo excludente, nem dizendo que os pobres devam se conformar com sua condição e não buscarem sua sobrevivência.

Boltando ao Rio, a impressão que fica, pensando como um ente produtivo da sociedade - que é capitalista, não nos esqueçamos! - é que estão nos cobrando imposto por frequentarmos tais lugares; e que, já que não estamos na rua mendigando, já que temos emprego, teríamos a obrigação de dar dinheiro para os necessitados.

Como estou de mau-humor e não estou me incomodando se corro o risco de ser desagradável, perguntarei: - são, estão, passam-se ou mantem-se necessitados? - quem é responsável por isso?

Vamos por partes, então. Muita gente tem dificuldades financeiras como consequeência da dinâmica do sistema, que visa o lucro, não a pessoa e em cujo interior o cidadão precisa ser econômicamente viável para manter-se incluido no sistema. Isso significa estudar, trabalhar e, hoje em dia, estar muito qualificado em tenra idade.
(continuarei)