Poeta do testemunho... da problematização da sociedade...e de belíssimos escritos.

Poeta do testemunho... da problematização da sociedade...e de belíssimos escritos.
Jorge de Sena (1919-1978)

sábado, 27 de novembro de 2010

Morar na Cidade Maravilhosa...

...tão cantada, já faz um bom tempo, não é uma tarefa fácil. Finalmente, entretanto, parece-me que algo de novo está acontecendo. Refiro-me expecificamente à reação da população à atuação do Estado. Há um entendimento geral de que é uma crise incontornável.

Como não vejo sentido em chover no molhado, outras coisas me interessam nesse contexto, uma delas quanto ao comportamento geral, falo do espalhamento de boatos, ou seja, é preciso saber como se comportar numa crise, ponderar sobre as coisas ao invés de ajudar ou instigar o tumulto. Essa lição ainda não foi aprendida. Outra é quanto à educação, em amplo senido.

Sabemos que muitas pessoas são atraídas para trabalhar para "o tráfico" por falta de outras oportunidades de trabalho; isto, por sua vez, relaciona-se cada vez mais com a formação. Se antigamente bastava disposição para aprender, acordar cedo e encarar o trabalho, hoje para chegar até uma vaga de emprego alguns diplomas serão necessários.

Nisto temos, é claro, o papel que deve ser desempenhado pelo Estado, mas, o que me interessa mesmo é o papel das famílias: como orientam os seus filhos para a escola, como deveriam estar cuidando do seu comportamento e parecem não estar, o que deveriam ensinar sobre o funcionamento da sociedade, e os cuidados com o próprio aprendizado em si, a formação acadêmica. Ou seja, onde estão as bases da sociedade?

Para aqueles que possam pensar que quero simplificar ou reduzir as grandes mazelas sociais ao círculo familiar, não estão muito errados. Quando temos um filho, estamos assumindo uma série de responsabilidades que vão muito além de custos e não têm prazo pra acabar. Não ter planejado ou ser muito jovem não são desculpas para esse descumprimento generalizado das funções dos Pais e Mães a que temos assistido.

Mesmo a formação política e cidadã não acontece naturalmente, necessitam de ser ensinadas, de haver um espaço para formação constante. Por exemplo, quem gosta de maconha deveria lutar por su legalização, não ficar financiando este poder desastroso que agora está sendo combatido na ponta do fuzil.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Avançando.

Nesta quarta, 24/11/10, saiu o resultado da prova de língua estrangeira instrumental e passei. Agora, haverá a última etapa, composta por entrevista. Embora ainda falte uma etapa, sinto-me estranha por ter já chegado tão longe.
A confiança que as pessoas depositam em nós é uma responsabilidade que pesa. Isso nos move.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

23 de novembro - DIA HERBERTO HELDER

Hoje aconteceu o evento, tão anunciado evento em comemoração dos 80 de nascimento de Herberto Helder, na UFF, organizado pelo (meu) querido Professor Luis Maffei, a Professora Ida Alves, e a equipe (não sei os nomes daquelas maravilhosas pessoas) que tornou este um dia marcante.

Aquelas e Aqueles que apresentaram seus artigos, textos, leituras de Herberto, construiram um evento inesquecível, principalmente pela bela diversidade ali apresentada. E o que fica como principal aprendizado é que HERBERTO é um autor enorme.

Para quem não pode estar lá, recomendo que leiam os textos apresentados, mesmo sabendo que o que vivenciamos durante este dia foi único.

domingo, 21 de novembro de 2010

Ainda sobre o capitalismo.

Quando eu disse, no outro dia, que é possível "alcançar certo conforto material trabalhando", refiro-me a um nível simples de exigências ou necessidades. Porque se, para você, conforto material significa morar num apartamentão no Leblon, tal o pessoal das novelas do Manoel Carlos, e nascestes em São Gonçalo, numa família não detentora de bens materiais, meu bem,.....

Isso me leva a uma linha de raciocínio que pode me marcar com a pecha de cruel, mas, o tal conforto espiritual que as religiões oferecem, lançando mão inclusive de todos os meios de mídia, atualmente, não prestam um grande serviço para manter a maioria trabalhando, submetendo-se, conformada?

Defendo-me dizendo que, para mim, o conforto espiritual não está engaiolado nas religiões e não lhes devo nem direitos autorais ou de patente pelo que vem e vai no meu espírito.

Considerando essa complexidade de questões que o viver impõe, principalmente para quem queira dar-se ao trabalho de olhar, temos as possibilidades de militância política, o que nada mais é do que se propor a interferir, de alguma forma e com consciência. E aqui está o meu dilema "PCdoB".

O Partido Comunista do Brasil entrou na minha vida em 1988, quando eu conheci o Kique na escola (esse mesmo que foi candidato a deputado federal este ano). Isto mudou a minha vida. Tenho dúvidas se eu ainda estaria viva se tivesse continuado restrita à vida sob meus pais. Porque estar à disposição do egoísmo "daqueles dois" teria, em mais alguns anos, acabado comigo. Entrar para o Partido na juventude abriu-me uma porta e chamou-me a olhar para a frente.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sim, os fundamentos do capitalismo me incomodam.

Embora eu imagine que pode ser um grande caus, tamanha ruptura - a da passagem para o socialismo, não assenta em mim que, para haver um rico, tantos tenham de ser condenados a uma existência miserável; que milhões de pessoas tenham como objetivo da existência a mera acumulação material.
A produção industrial, os avanços tecnológicos, deveriam simplesmente permitir que dedicássemos nosso tempo a amar, estudar, conviver, criar; mas somos ensinados a viver para acumular, na ilusão de que é possível conquistarmos tudo o que o dinheiro possa comprar, desde que trabalhemos muito, sejamos muito produtivos, "otimizemos" nosso tempo.

Tolice, tolice, tolice da mais tola que pode haver!! Esse excesso de trabalho gera frutos para o "patrão", não para o empregado - que agora é "colaborador". Tendo emprego e "algum estudo" pode-se, sim, alcançar certo conforto material. Só isso.

Quero olhar para as palavras deste contexto. Colaborador, para começar, traz uma idéia de equiparação, de atitude voluntária, portanto, tudo o que a condição de empegado , de vendedor da própria mão-de-obra em troca de salário, não inclui. Esta ilusão em particular, me parece, visa levar o "colaborador" a esforçar-se para o cumprimento dos objetivos da empresa, como se isso fosse uma competição por mérito.
Conforto. Taí uma palavra "São Pedro", ou seja, cheia de chaves para as portas do significado. Para provocar, falarei de conforto material ou espiritual? Conforto espiritual pode instalar-se sem o material?

" Perguntas, perguntas que devem ser respondidas." (TOLKIEN, 1955).

terça-feira, 16 de novembro de 2010

HERBERTO HELDER - UFF, 23/11/10.

Evento na UFF, dia 23/11 - das 9 às 17h, sala 218C do Instituto de Letras. SOLDADO AOS LAÇOS DAS CONSTELAÇÕES - DIA HERBERTO HELDER.

Biografia

Herberto Helder Luís Bernardes de Oliveira nasceu a 23 de Novembro de 1930 no Funchal, ilha da Madeira, no seio de uma família de origem judaica. Em 1946, com 16 anos, viaja para Lisboa para frequentar o 6º e o 7º ano do curso liceal. Em 1948, matricula-se na Faculdade de Direito de Coimbra e, em 1949, muda para a Faculdade de Letras onde frequenta, durante três anos, o curso de Filologia Romântica, não tendo terminado o curso. Três anos mais tarde regressa a Lisboa, começando por trabalhar durante algum tempo na Caixa Geral de Depósitos e depois como angariador de publicidade, sendo que durante este tempo vive, por razões de ordem vária e pessoal, numa «casa de passe».

Em 1954, data da publicação do seu primeiro poema em Coimbra, regressa à Madeira onde trabalha como meteorologista, seguindo depois para a ilha de Porto Santo. Quando em 1955 regressa a Lisboa, frequenta o grupo do Café Gelo, de que fazem parte nomes como Mário Cesariny, Luiz Pacheco, António José Forte, João Vieira e Hélder Macedo. Durante esse período trabalha como propagandista de produtos farmacêuticos e redactor de publicidade, vivendo com rendimentos baixos. Três anos mais tarde, em 1958, publica o seu primeiro livro, O Amor em Visita. Durante os anos que se seguiram vive em França, Holanda e Bélgica, países nos quais exerce profissões pobres e marginais, tais como: operário no arrefecimento de lingotes de ferro numa forja, criado numa cervejaria, cortador de legumes numa casa de sopas, empacotador de aparas de papéis e policopista. Em Antuérpia, viveu na clandestinidade e foi guia dos marinheiros no sub mundo da prostituição.

Repatriado em 1960, torna-se encarregado das bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, percorrendo as vilas e aldeias do Baixo Alentejo, Beira Alta e Ribatejo. Nos dois anos seguintes publica os livros A Colher na Boca, Poemacto e Lugar. Em 1963 começa a trabalhar para a Emissora Nacional com redactor de noticiário internacional, período durante o qual vive em Lisboa. Ainda nesse mesmo ano publica Os Passos em Volta e produz A máquina de emaranhar paisagens. Em 1964 trabalha nos serviços mecanográficos de uma fábrica de louça, datando desse ano a sua participação na organização da revista Poesia Experimental. Nesse ano reedita ainda Os Passos em Volta, escreve «Comunicação Académica» e publica Electronicolírica. Em 1966 participa na co-organização do segundo número da revista Poesia Experimental e no ano seguinte publica Húmus, Retrato em Movimento e Ofício Cantante. Data de 1968 a sua participação na publicação de um livro sobre o Marquês de Sade, o que o leva a ser envolvido num processo judicial no qual foi condenado. Porém, devido às repercussões deste episódio consegue obter suspensão de pena, facto este que não conseguiu evitar que fosse despedido da Rádio e da Televisão portuguesas. Refugia-se na publicidade e, posteriormente, numa editora onde desempenha o cargo de co-gerente e director literário. Ainda nesse ano publica os livros Apresentação do Rosto, que foi suspenso pela censura, O Bebedor Nocturno e ainda Kodak e Cinco Canções Lacunares.

Em 1970 viaja por Espanha, França, Bélgica, Holanda e Dinamarca, publicando nesse ano a terceira edição de Os Passos em Volta e escreve Os Brancos Arquipélagos. Em 1971 desloca-se para Angola onde trabalha como redactor numa revista. Enquanto repórter de guerra é vítima de um grave desastre tendo que ser hospitalizado durante três meses. Data ainda desse ano a publicação de Vocação Animal e a produção de Antropofagias. Regressa a Lisboa e parte de novo, desta vez para os E.U.A., em 1973, ano durante o qual publica Poesia Toda, obra que contém toda a sua produção poética, e faz uma tentativa frustrada de publicar Prosa Toda. Em 1975 passa alguns meses na França e Inglaterra, regressando posteriormente a Lisboa onde trabalha na rádio e em revistas, meios restritos de sobrevivência económica. Em 1976, Herberto Helder participa na edição e organização da revista Nova que, sendo posterior à revolução de 25 de Abril de 1974, reconhecia na Literatura portuguesa características que a aproximaram às Literaturas latino-americana, africana e espanhola, declinando uma direcção literária revolucionária cuja actividade não ultrapassou o plano teórico devido à instabilidade política portuguesa que se fazia sentir na altura. Nos anos que se seguiram publicou as obras Cobra, O Corpo, O Luxo, A Obra e Photomaton e Vox. A última referência encontrada da instabilidade biográfica de Herberto Helder referia-se ao facto de o poeta ter abandonado todas as suas anteriores actividades e de viver no mais cioso dos anonimatos.

Fonte - http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/helder/biogra.html

domingo, 14 de novembro de 2010

E foi a seugnda prova...

.na quinta. É nessas horas que a gente tem certeza da importância de ter dinheiro para dar uma formação completa aos nossos filhos, e lamenta - no meu caso - não ter recebido isso em casa na idade certa.

Foi uma prova de inglês com quatro páginas de texto!!! quatro páginas de texto!!!

Quando a gente nunca fez curso de inglês, é uma prova difícil, mesmo sendo composta por perguntas simples. Até dia vinte e quatro, estou naquele momento "rezando pra ter passado".

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Avançando.

Nesta sexta (05/11) peguei o resultado da primeira etapa do processo de admissão para o Mestrado, na UFF: passei. Agora faltam mais duas etapas, que se compeltarão até o final do mês. Quando (!!!) eu for aprovada, serei a pessoa em toda a minha família, dos dois lados, com o maior nível de escolarização.

Lembro-me da minha mãe. Ela não chegou a frequentar a escola, nunca na vida. Por isso mesmo, não mediu esforços para colocar e manter seus filhos lá. Passou três dias na fila em 1978 para garantir a primeira matrícula lá de casa. Isso asseguraria também as outras duas. Lembro-me do primeiro dia de aula da minha vida, na escola: 4 de março de 1980 - meu sétimo aniversário. Naquele tempo, usávamos aquela saia de pregas, camisa de tergal com emblema no bolso, sapatos engrachados e meias brancas.

Acabei o segundo grau com 17 anos, mas não entrei pra faculdade. Foi uma ausência de dezesseis anos, sanada com o advento do PRO-UNI. Graduação em Letras entre 2006 e 2008, especialização em curso na UERJ. Passando pro Mestrado me tornarei a pessoa a alcançar o maior nível de escolaridade de toda a minha família.

Na minha casa, estudamos muito meus filhos e eu. O primogênito é aluno do Colégio Pedro II. Meu menino de 7 lê muito bem. Minha flrozinha do meio termina o (antigo) Ginásio em 2011. Penso que não há nada mais importante para deixarmos aos nossos filhos. Penso que essa deveria ser a mentalidade neste país.

Enquanto penso, vejo o ranking do IDH: a má qualidade (salvo raríssimas exceções) de nossa educação nos mantendo embaixo, abaixo do nosso potencial. Mas, acho fundamental, essa razão está exposta.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Por que escolhi falar sobre Jorge de Sena...

...no Mestrado?

Em primeiro lugar, da primeira vez em que li um poema seu, senti-me incluída:

"Hoje, fiz uma lista de livros, e não tenho dinheiro para os poder comprar.
É ridículo chorar falta de dinheiro
para comprar livros,
quando a tantos ele falta para não morrerem de fome. "

Além de eu não estar acostumada com tal sentimento, não o esperava no simples gesto de estudar literatura numa pós-graduação. Logo em seguida descobri que ele era marxista, e isto também está em seus escritos.

Do ponto de vista estético, ou da aparência mesmo de seus poemas, acho belos os seus versos, bem como no modo em que aborda temas como o amor e as dificuldades financeiras inerentes à vida inserida num mundo capitalista, por exemplo.

" Conheço o sal... "

Conheço o sal da tua pele seca
depois que o estio se volveu inverno
da carne repousada em suor noturno.

Conheço o sal do leite que bebemos
quando das bocas se estreitavam lábios
e o coração no sexo palpitava.

Conheço o sal dos teus cabelos negros
ou louros ou cinzentos que se enrolam
neste dormir de brilhos azulados.

Conheço o sal que resta em minhas mãos
como nas praias o perfume fica
quando a maré desceu e se retrai.

Conheço o sal da tua boca, o sal
da tua língua, o sal de teus mamilos,
e o da cintura se encurvando de ancas.

A todo o sal conheço que é só teu.
ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,
um cristalino pó de amantes enlaçados."

Madrid, 16/01/1973.

Por fim, sou da opinião que um dos maiores patrimônios dos comunistas são os seus quadros, no sentido da formação política que se comprometem a adquirir, aprofundar e reproduzir. Neste sentido, acho que a obra de Jorge de Sena interessa muito a este segmento de militância, assim como a obra de José Saramago.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Tropa de Elite - um filme em duas partes.

Ontem assisti TROPA DE ELITE 2. Um dia desses havia assistido TROPA 1, porque queria assistir ao segundo. A primeira coisa que me parece é que é um filme em duas partes, não um filme com continuação. Também me impressionou a narrativa, muito bem organizada, didática sem ser massante, e com um humor refinado, composto com o auxílio de muita ironia.

Não sei quanto aos outros, mas sendo carioca e conhecendo bem os referentes de que o filme lança mão, fiquei com a cabeça cheia de coisas pra pensar. Acho isso uma qualidade numa obra de arte.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

2 de novembro de 1919 - nascimento de JORGE DE SENA.

Hoje completam-se 91 anos do nascimento deste grande poeta (que escreveu diversamente, mas se intitulava sobretudo poeta). Já fazem 32 anos que faleceu. Um dia muito apropriado para inaugurar este novo encaminhamento e visual para este meu blog, pois me parece que tenho interesses comuns com Sena, no que concerne a olhar para a sociedade e pensar nela.

No início deste ano fui cursar um crédito avulso no Mestrado da UFF. Foi com o Professor Luis Maffei (seu Mestrado e Doutorado foram sobre Herberto Helder). O Maffei é "fera" em literatura. foi com ele que conheci os escritos de Jorge de Sena. correto é dizer que com ele parei diante de uma porta que alargaria os tamanho dos meus horizontes - Jorge de Sena.

Intento aqui escrever com variedade, mas sempre com um olho nesta sociedade, neste nosso século ainda por definir e entender, portanto não falarei somente da obra seniana.