Poeta do testemunho... da problematização da sociedade...e de belíssimos escritos.

Poeta do testemunho... da problematização da sociedade...e de belíssimos escritos.
Jorge de Sena (1919-1978)

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Hoje seu estou lendo CAMÕES

Uma coisa é preciso dizer com relação à equação homem-sociedade-época: a mudança de ritmo no andamento da vida é, me parece, o que realmente distancia um texto passado do sujeito atual.

Veja a leitura de Os Lusíadas, por exemplo. Não é só o contar de uma história, mas é toda a construção, em parceria com o leitor, dos preâmbulos, motivos e objetivos, depois a construção da própria história a ser contada.

Hoje, por exemplo, as sociedades pós-modernas temos à disposição imagens reais ou ficticiamente construídas ( e impostas ) e vamos perdendo o costume de nos darmos ao trabalho de trabalhar junto com os autores de histórias.

Não que as “facilidades” impostas pelo momento atual estejam trazendo satisfação às pessoas, por que não estão. Muito pelo contrário, constroem-se nos dias atuais pessoas amplamente solitárias, repletas e cercadas de “ parafernália viabilizadora” de comunicação, pois não tem o que comunicar por não terem um quem que queira receber comunicação, no sentido mais amplo da palavra. Sei que está truncado o meu pensamento, exemplificá-lo-ei, portanto.

As pessoas tem minutos para falar em telefones e celulares, cujo uso levam-nas a ganhar mais tempo e daí ligam para dizer: “-liguei para aproveitar os minutos do plano tal e ganhar mais minutos grátis.” O que foi comunicado entre tais escravos dos padrões urgentes?

Mas isso tudo começou por que eu estava lendo Os Lusíadas, um canto à superioridade portuguesa, que se pretendia maior do que tudo antes de si. Me incomoda o fato, do qual não posso fugir, de que é e será sempre uma leitura lenta, exigindo um tempo que no momento não posso dedicar, embora eu queira. O momento atual exige que dedique o meu tempo ao outras prioridades.

Acho, por fim, lamentável que tenhamos aprendido tanto, criado tanta tecnologia, mas não consigam os seres humanos se libertar através do conhecimento que a cultura acumulada permitiria, por falta de tempo.